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sexta-feira, fevereiro 28, 2025
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O Julgamento de Bolsonaro

Lincoln Penna
Cientista político, escritor e historiador

A denúncia apresentada pelo Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, contra Jair Bolsonaro e mais 33 aliados seus, será apreciada pela primeira turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao acatar, como tudo indica, a peça documentada da trama golpista liderada pelo ex-presidente, será aberto o processo com ampla defesa dos réus. Processo que tende a render algum tempo em razão do interesse dos golpistas em retardar ao máximo o resultado, que parece óbvio do ponto de vista jurídico.

Há, no entanto, um outro processo. Refiro-me aquele que não se encontra no cenário de nossa Corte Suprema, mas no povo, cuja parte não desprezível ainda se rende às falas do ex-capitão a reproduzir a ditadura de que tanto admira, bem como de seus mais cruentos representantes. Reação que não deve ser descartada porque esse contingente social, boa parte dele fanatizado pelo “mito”, despreza solenemente a razão, uma vez que reage irracionalmente pela emoção.

Por outro lado, os movimentos sociais, os partidos de esquerda e o sindicalismo mais combativo, têm perdido protagonismo para as redes sociais, espaço hoje em dia prioritário para as manifestações políticas. É evidente que só isso não explica a pouca representatividade dos movimentos sociais de rua, como no passado recente, mas o desmonte do Estado promovido pelo governo bolsonarista em áreas essenciais como a saúde e a educação, que junto com a adoção de uma política neoliberal reduziram a massa assalariada, dada a hegemonia do capital financeiro.

Essa realidade não se apresenta apenas no Brasil. Ela está presente em vários outros países, pelo menos desde a Operação “Mãos Limpas” na Itália, que reduziu consideravelmente a força do movimento operário e do Partido Comunista Italiano (PCI), o de maior projeção e influência política do Ocidente e que é aqui representada pela Lava Jato. A derrota da comunidade socialista mundial com o término da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e dos demais estados socialistas da Europa exemplificam bem essa derrota. Ter conhecimento da história das lutas sociais em nosso mundo contemporâneo é muito importante para que possamos entender o que se passa presentemente.

Essa batalha que está configurada e que deverá se intensificar ao longo deste ano de 2025 terá de ser enfrentada ainda dentro de uma ampla aliança de forças antifascistas. Porém, terá de ser capitaneada pelo mundo do trabalho, sem concessão ao rentismo e, sobretudo, à conciliação, subproduto de uma cultura política que impede as grandes transformações tão necessárias ao desenvolvimento autossustentado que nos garanta verdadeiramente a soberania nacional e popular.

Aos revanchistas que buscam de todo jeito regredir aos tempos da ditadura, que é o fundamento e a inspiração que os mobiliza, temos que produzir uma unidade de forças através de um pacto de unidade e ação para barrar essas investidas, como a de 8 de janeiro de 2023. O ensaio geral que foi tentado nessa data não pôs fim às tentativas de tomada do poder. Elas podem vir de todas as formas, sempre aguardando que os militares venham a dar suporte a novas investidas. Estejamos, pois, atentos e fortes para reafirmar a ainda limitada democracia que temos no plano social, para transformá-la em farol das mudanças que desejamos.

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