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terça-feira, abril 1, 2025
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Nisia alega misoginia para a sua demissão, tentando esconder falta de diálogo e o desmonte do SUS

A ex-ministra da Saúde, Nísia Trindade, tem feito declarações públicas repetindo ter sido a misoginia (desvalorização e discriminação da mulher) a causa da sua demissão do Ministério da Saúde. Durante a posse do novo ministro da pasta, Alexandre Padilha, em 10 de março, disse também defender o diálogo “em torno de propostas para melhorar a vida da população”.

Mas o que se viu desde a sua posse foi a tomada de decisões impostas à população usuária e aos servidores do Sistema Único de Saúde (SUS), sem qualquer diálogo, muito pelo contrário: Nísia impôs um projeto de corte de orçamento, desmonte e fatiamento da rede federal de hospitais, sem respeito aos conselhos distritais, municipal, estadual e nacional de Saúde que formam o chamado controle social do SUS, instituições com poder deliberativo previsto em lei, mas que foram ignorados e atropelados por Nísia Trindade.

Ministério da Saúde usou da força policial contra a ocupação pacífica da direção do Hospital Federal de Bonsucesso. Foto: Mayara Alves.

Por isto mesmo, o Conselho Nacional de Saúde, o Conselho Estadual e o Conselho Municipal de Saúde do Rio de Janeiro se posicionaram contra o projeto de fatiamento e terceirização destas unidades. Nísia ignorou também os profissionais da saúde, que entraram em greve em maio de 2024 contra o projeto. Fechou as portas para o diálogo que, agora, diz defender. São nove meses de greve, com passeatas e ocupações, que desgastarem o governo, com a recusa a qualquer tipo de negociação por parte de Nísia.

Demissão não está ligada à misoginia – A diretora do Sindsprev/RJ, Christiane Gerardo, lembrou que a misoginia está presente em toda a sociedade, no campo da gestão, do trabalho e, até mesmo, no meio sindical. “Qualquer mulher vai sofrer com a misoginia que é fruto do machismo, que tem que ser combatido. Mas a demissão de Nísia Trindade não está relacionada à misoginia. O governo manteve por dois anos uma gestão que só provocou mais crise no Ministério de Saúde por ter desmantelado o SUS. Uma gestão que, inclusive, teve outros tipos de problemas, que fez repasse de uma verba de R$ 55 milhões para a Prefeitura de Cabo Frio, que depois nomeou o filho da ministra como secretário, o que levou ao afastamento do prefeito e a uma crise política”, lembrou a dirigente.

Servidores da saúde protestam no G-20 pela abertura de negociação com a ministra da Saúde. Foto: Mayara Alves.

Acrescentou como responsabilidade da gestão de Nísia a incineração de mais de um milhão de vacinas que o Ministério não usou e deixou vencer, e a crise da dengue. “Além disto, o processo de desmonte imposto por ela aos hospitais federais, causou um imenso desgaste para o governo federal. Não há dúvida de que sofreu misoginia e machismo, como toda mulher que passa a ocupar um cargo importante. Mas não foi isso o que levou à sua exoneração. Por seu histórico, Nísia foi muito poupada pelo governo que já deveria tê-la demitido muito antes”, argumentou Christiane.

Gestão decepcionante – Também diretora do Sindsprev/RJ, Maria Isabel frisou que Nísia usa um discurso raso e inverídico de quem quer mascarar a sua incompetência administrativa, intransigência e decadência sob o escudo real do machismo estrutural que deve ser combatido todos os dias em todos os locais. “Mas no caso de Nísia, a misoginia não foi o detonador do processo que levou à sua saída. Ela assumiu a caneta funesta que assinou inúmeros atestados de óbito na rede federal, flertando com a iatrogenia (alteração patológica provocada no paciente) e a negligência”, afirmou Isabel.

Apesar dos protestos, Nísia se recusou a negociar com os profissionais da saúde federal em greve. Foto: Mayara Alves.

Frisou, ainda, que graças às imposições da ex-ministra, foram assinados muitos atestados de licença médica, em função do adoecimento de centenas de profissionais da saúde, que depositaram esperança em melhorias com a posse de Nísia, mas só tiveram decepção. Para a dirigente, o projeto implantado pela ex-gestora visa as finanças e não o paciente, numa referência ao corte de recursos, terceirização e privatização das unidades federais. “Nísia perdeu a chance ímpar de marcar positivamente o seu nome na história. Saiu porque é péssima, uma vergonha para a ciência, um arrependimento para o presidente e um lamento para o SUS e toda a sua gente”, acrescentou.

Falta de diálogo foi a marca da administração Nísia Trindade – Para Christiane, a falta de diálogo foi a marca da gestão da ex-ministra. “Diálogo foi o que ela não teve. Fez uma gestão autoritária, intransigente, com ações desastrosas, sobretudo no tocante à rede federal. A gestão de Nísia se configurou como antidemocrática, como não vivemos nem no governo Bolsonaro. Só eu respondo a quatro Processos Administrativos Disciplinares (PAD). Além do uso da força policial contra a greve dos servidores federais”, lembrou.

Gestão da ex-ministra, autoritária, desastrosa e antidemocrática foi uma decepção para os servidores que, na foto de Mayara Alves, aparecem em passeata pelo Centro da Cidade.

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