Em mais um exemplo de completo caos administrativo e desprezo pela vida humana, o Ministério da Saúde até o momento ainda não começou a organizar a vacinação contra a covid dos profissionais lotados em sua rede federal de hospitais e institutos.
Ou seja: não se preocupou em proteger os trabalhadores que, por estarem na linha de frente do combate ao novo coronavírus, estão por isso mais sujeitos a contaminação e morte.
A Organização Panamericana da Saúde (Opas) estima que mais de 570 mil profissionais de saúde já foram infectados pelo coronavírus e cerca 2,5 mil morreram nas três américas (Norte, Central e do Sul).
No Brasil, ainda não há dados atualizados sobre o total de profissionais de saúde vitimados pela covid. Mas uma estimativa do Observatório de Recursos Humanos da Escola Nacional de Saúde Pública, vinculada à Fiocruz, aponta que o Brasil está próximo de bater a marca de mais de mil profissionais de saúde mortos pela doença.
Entre os profissionais mortos, as equipes de enfermeiros, técnicos e auxiliares são as principais vítimas. Profissionais em sua maioria exercendo suas funções em unidades de saúde precarizadas e recebendo Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) de forma escassa e/ou irregular.
“Os profissionais de saúde pública no Brasil, em especial aqueles lotados na rede federal, já vinham de um grande estresse por conta da primeira onda da covid. Com o aparecimento da segunda onda da doença e a explosão no número de casos e internações, esse stress e tensionamento aumentou ainda mais, aumentando também os riscos de contágio. Não podemos aceitar que o Ministério não tenha iniciado a vacinação desses trabalhadores”, criticou Cristiane Gerardo, dirigente regional do Sindsprev/RJ.
Pesquisa realizada pela Associação Paulista de Medicina em julho de 2020, junto a 2 mil médicos, já mostrava um quadro extremamente preocupante: 63% dos profissionais descreveram como “apreensivo” o clima no trabalho. Os problemas mais comuns citados foram ansiedade (69,2%), estresse (63,5%), sensação de sobrecarga (50,2%) e exaustão física ou emocional (49%).
Cristiane Gerardo lembra que, no caso da rede federal do Rio, além das precariedades no fornecimento de EPIs, do aumento da sobrecarga de trabalho e do adoecimento, a situação foi agravada pela incerteza quanto à continuidade dos profissionais de saúde contratados na rede federal. A situação foi provocada por um irregular certame que excluiu mais de 90% dos trabalhadores que já atuavam na rede. Profissionais que tinham larga experiência no atendimento à população. “Nenhum profissional consegue trabalhar com um mínimo de tranquilidades ao saber que será demitido. Foi isto o que aconteceu na rede, onde o governo Bolsonaro só renovou os contratos de 1.419 dos mais de 3.500 profissionais. A responsabilidade por todo o caos da rede federal é do governo Bolsonaro e da gestão Pazuello”, disse.
O Sindsprev/RJ considera prioritário que o Ministério da Saúde inicie já a vacinação de todos os profissionais lotados na rede federal. Consideram também primordial que as secretarias estaduais e municipais de saúde façam o mesmo com os profissionais lotados em suas redes.
Além disso, o sindicato também entende ser necessário continuar pressionando os poderes públicos para que ampliem a vacinação de toda a população brasileira.
Nesse sentido, o Sindsprev/RJ está participando da campanha ‘Abrace a Vacina’, lançada dia 18/1 pelo coletivo ‘Direitos Já!’, pelo ‘Fórum pela Democracia’ e pela ‘Frente pela Vida’. A campanha reúne importantes organizações da sociedade civil, personalidades e especialistas em saúde pública.