A informação foi prestada em depoimento à CPI do Genocídio, nesta terça-feira (28/9), pela advogada de ex-médicos do plano de saúde Prevent Senior, Bruna Morato: experiências foram feitas com pacientes submetidos ao tratamento precoce contra a covid-19, sem indicação comprovada cientificamente, e alterada a causa da morte com o objetivo de reduzir o número de casos registrados da doença. E mais: a advogada revelou a existência de um “pacto” entre a equipe econômica e integrantes do “Ministério da Saúde paralelo” para evitar o lockdown e medidas restritivas.
Segundo a depoente, o objetivo do esquema era validar um estudo da Prevent Senior com hidroxicloroquina para, depois, fazer uma ampla campanha nacional de abertura da economia brasileira. Segundo a advogada, a Prevent vendia a ideia de que a cloroquina era uma “pílula de esperança” contra o lockdown. Bruna disse que, apesar do estranhamento, os médicos tinham a sensação de que a empresa contava com o aval do Ministério da Saúde para realização dos experimentos com os pacientes.
O ministro Paulo Guedes, assim como o seu chefe Jair Bolsonaro, sempre se colocou contra medidas de prevenção como isolamento social, o que agravou a disseminação da doença. Em março de 2020 o ministro defendeu um ‘isolamento social inteligente’ que não atrapalhasse a economia. Em maio advertiu que as medidas de isolamento decididas por governadores para combater o novo coronavírus poderiam provocar um “colapso” econômico e social, com desabastecimento de alimentos.
Guedes sempre agiu de forma ativa na campanha do presidente de crítica às medidas de isolamento social, apesar do aumento da epidemia no Brasil, já registram na época, mais de 135 mil casos e 9.146 mortos. Especialistas consideravam este balanço subestimado.
Bolsonaro também fazia campanha pública em defesa do uso de medicamentos para tratamento precoce sem comprovação científica, como a hivermectina e a hidroxicloroquina, atitude criminosa de charlatanismo. As denúncia da advogada sobre o caso Prevent Senior e sua relação com o governo e o comando paralelo, reforçam a prática deste crime, cuja extensão mostrou ser ainda maior.
Diante das denúncias feitas pelos médicos, através da advogada, senadores pediram que Guedes fosse convocado a depor.
Mas o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), recusou o pedido, alegando a situação difícil da economia.
O pacto
Bruna Morato apontou que após tentativas frustradas de se aproximar do Ministério da Saúde então comandado por Luiz Henrique Mandetta, o diretor da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, teria buscado o Ministério da Economia para ajudar a evitar um lockdown nacional. A esperança tinha nome: hidroxicloroquina, disse a advogada Bruna Morato.
Sem êxito na aproximação com Mandetta, a Prevent Senior teria fechado uma “aliança” ou “pacto” com um conjunto de médicos que assessoravam o governo federal, “totalmente alinhados com o Ministério da Economia”. Entre os médicos estavam membros do chamado “gabinete paralelo”, como Nise Yamaguchi, Anthony Wong, Paolo Zanotto. Após a saída de Mandetta, eles também teriam atuado no Ministério da Saúde.
— Já existia um grupo de assessores médicos próximos ao governo que tinham informações até então científicas muito próximas aos interesses do Ministério da Economia, que era com relação ao país não precisar aderir ao lockdown. Segundo as informações que eu tive, a Prevent Senior entra pra corroborar com essa possibilidade, ou seja, a possibilidade de as pessoas se exporem mais ao vírus, cientes de que existe uma possível cura ou um possível tratamento que reduziria a letalidade, então elas teriam mais coragem. A expressão que eu ouvi dos médicos foi que aquilo seria uma “pílula de esperança” — denunciou Bruna, que ressalvou nunca ter ouvido especificamente o nome do ministro Paulo Guedes nas conversas.
Bruna Morato revelou que a Prevent Senior alterava a CID (Classificação Internacional de Doenças) no prontuário dos pacientes, retirando a menção à covid-19, “para que houvesse uma falsa sensação de sucesso em relação ao tratamento preventivo”. A advogada confirmou que o médico bolsonarista Anthony Wong morreu em decorrência da infecção por coronavírus. Na certidão de óbito, consta que ele morreu de choque séptico, pneumonia, hemorragia digestiva alta e diabetes mellitus.
Cobaias
Bruna Morato afirmou que pacientes de hospitais da Prevent Senior foram feitos de ‘cobaias’ em experimentos sobre medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid. Ela descreveu que a empresa conseguia a autorização de pacientes em situação vulnerável para participar de um “novo tratamento”, sem que eles soubessem quais substâncias seriam utilizadas.
A advogada disse que o hospital não detalhava, em nenhum momento, os riscos aos quais o paciente estava sendo submetidos.
Segundo Bruna, a ordem para a realização da testagem em massa dos medicamentos sem eficácia comprovada em pacientes com Covid partiu de Pedro Batista, diretor da Prevent Senior, e contou com a participação da alta cúpula da empresa.
Bruna Morato disse que médicos contrários ao tratamento precoce contra a Covid eram demitidos pela Prevent Senior. As demissões, segundo ela, ocorriam sob a justificativa de enxugamento de quadros da empresa. A advogada afirmou que os médicos que se recusavam a prescrever o “kit Covid” também sofriam retaliações, como ficar de fora das escalas de plantão, o que impactava na remuneração.
*Com informações do site do Senado Federal.