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quinta-feira, novembro 21, 2024
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Livro mostra que preconceito linguístico é rejeição da elite contra o falar das classes populares

‘A Norma Oculta – Língua e Poder na Sociedade Brasileira’, do linguista e pesquisador Marcos Bagno, é um livro que, embora tenha sido lançado em 2004, continua fundamental para todos os que querem se familiarizar com a já clássica discussão sobre as complexas relações entre a gramática da língua portuguesa e os usos e costumes dos falantes do idioma no Brasil.

Questionando a tradicional classificação de ‘fala culta’ utilizada tanto para se referir à gramática normativa quanto à variedade linguística praticada pelos falantes escolarizados das grandes regiões metropolitanas brasileiras, Marcos Bagno propõe uma nova terminologia: ‘norma culta’, para se referir à gramática normativa (prescritiva); ‘variedade prestigiada’, para se referir ao português praticado pelos falantes escolarizados; e ‘variedade estigmatizada’, para se referir ao português falado pelas classes populares, cuja principal característica é um distanciamento ainda maior em relação às regras gramaticais tradicionalmente consagradas como ‘certas’.

Bagno comprova que o preconceito linguístico é, na verdade, a expressão de um preconceito de classe das elites ‘letradas’ contra os usos e costumes dos falantes oriundos das classes populares ou de baixa escolarização. Nesse sentido, ele lembra que a intolerância dos gramáticos e puristas da língua portuguesa contra o que consideram ‘erros’ varia de acordo com a condição de classe dos falantes que, em cada caso concreto, estariam cometendo os supostos ‘erros’.

Alguns desses casos são os que envolvem o uso de pronomes retos (Eu, Tu, Ele, Nós, Vós Eles) na função de objetos diretos, como no exemplo: ‘eu vi ela ontem’, em vez de ‘eu a vi ontem’; ou em expressões como ‘eu custei a vencer’, em vez de ‘a mim custou vencer’. Tais usos e expressões, entre várias outras citadas no livro, só passaram a ser aceitas, ao menos tacitamente, a partir do momento em que foram amplamente adotadas pelos falantes brasileiros de maior escolarização, dado revelador do preconceito linguístico como sendo, na verdade, um preconceito contra as formas (orais e escritas) adotadas pelos falantes menos escolarizados da língua portuguesa.

Marcos Bagno, ao contrário de seus apressados críticos, não propõe que se rasgue a gramática normativa, mas apenas que se compreenda a inevitabilidade da existência de tensas relações entre a norma culta (gramática prescritica) e a oralidade (ou o português efetivamente falado pelos milhões de brasileiros), concluindo daí pela necessidade de a gramática evitar a ossificação de suas fórmulas tidas como ‘consagradas’.

Grande parte do fracasso do ensino de Português no Brasil advém desse descompasso, no qual a sintaxe natural dos falantes da língua é quase sempre desprezada ou ridicularizada pela escola tradicional, toda ela baseada na ‘autoridade’ da gramática normativa/prescritiva.

 

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