Lançado em 2021 pela Boitempo Editorial, o livro “Os Laboratórios do Trabalho Digital” aborda um dos fenômenos mais atuais da contemporaneidade: a presença das plataformas digitais como mediadoras da maioria das atividades sociais, econômicas, políticas e culturais de nosso cotidiano.
Organizada por Rafael Grohmmann, professor de Estudos Críticos de Plataformas e Dados da Universidade de Toronto (Canadá), a obra traz 38 entrevistas com renomados pesquisadores dos campos da Comunicação, da Sociologia do Trabalho, do Direito e da Tecnologia da Informação sobre as complexas imbricações da plataformização no mundo atual, onde até mesmo “cidades inteligentes”, baseadas na internet das coisas, já são experimentadas em vários países, com destaque para China e EUA.
Num mundo em que Google, Airbnb, I-Food, Uber, Facebook, Tik-Tok, Instagram, Youtube e centenas de outras plataformas que vieram para ficar, os pesquisadores, no entanto, ressaltam as contradições da digitalização num mundo regido por mecanismos de inteligência artificial, big-data e algoritmos programados para também reproduzir preconceitos sociais e raciais, o que coloca em xeque a tão decantada promessa emancipatória contida nos discursos que apresentam as novas tecnologias como se fossem o “paraíso na terra”. Problemas como o aumento da superexploração do trabalho, a perda de direitos sociais, a falta de transparência na coleta de dados de bilhões de usuários da web e o uso cada vez mais intensivo de ferramentas de controle político dos cidadãos são bastante realçados pelos especialistas, que também destacam o caráter ambíguo dessas ferramentas.
Se, por um lado, os meios digitais e as plataformas reificam a economia neoliberal e seus valores de mercadorização da vida e das informações, por outro também abrem novas possibilidades de apropriação por parte dos receptores, viabilizando seu uso para o ativismo social e dar visibilidade a reivindicações de causas sensíveis para a transformação social, como ocorrido nas mobilizações de 2013, no Brasil e no mundo, a maioria delas convocadas por redes sociais.
Nesse sentido, um fenômeno importante destacado pelos estudiosos entrevistados é o das experiências de resistência às grandes plataformas capitalistas.
Experiências que vão desde a criação de pequenas plataformas, em nível local, até a instauração do chamado cooperativismo de plataforma, no qual as relações (sociais e comerciais) entre seus membros são pautadas na busca de transparência, compartilhamento, troca de informações e alteridade.
‘Laboratórios do Trabalho Digital’ é obra indispensável para compreender os meandros e desafios da plataformização.