Uma época que não deixará a menor saudade entre servidores(as) do Ministério da Saúde e milhares de usuários(as) dos hospitais federais do Rio. Assim foi a finada gestão Nísia Trindade, período marcado por autoritarismo, soberba, desrespeito aos trabalhadores da saúde, desrespeito às instâncias do controle social no SUS e reveses como o escândalo dos transplantes de órgãos infectados por HIV, os problemas na gestão de vacinas e a descoberta da nomeação do filho de Nísia para a prefeitura de Cabo Frio, sob suspeita de favorecimento.
A gestão Nísia também foi a responsável por iniciar o fatiamento da rede federal, entregando hospitais ao município do Rio e a organizações sociais que na prática são formas disfarçadas de privatização. Política que nem mesmo a extrema direita ousou praticar no Brasil.

Dirigente do Sindsprev/RJ, a servidora Cristiane Gerardo analisou a saída de Nísia com um questionamento sobre as narrativas que atribuem a demissão da ministra a uma suposta misoginia. “Tenho severas críticas à narrativa de misoginia sobre a demissão de Nisia Trindade. Para além da inaptidão política, parte do problema não estava somente em Nisia, mas na equipe dela. Uma equipe autoritária, assediadora e que não dialogava. Era um excesso de exercício de poder diário, a ponto de terem convocado o Batalhão de Choque contra servidoras do Ministério da Saúde que resistiam à entrega do Hospital de Bonsucesso ao Grupo Conceição. Isto sim foi misoginia e machismo. Portanto, manter a equipe de Nísia é manter o erro. Quero por isso defender a decisão do governo Lula e ser enfática em refutar a narrativa de misoginia contra Nísia que estão tentando colar”, disse.
O também dirigente do Sindsprev/RJ Sidney Castro reforçou as críticas. “Para mim, a queda de Nísia em muito se explica pelo desgaste que ela teve nas relações com o movimento sindical, especialmente com o Sindsprev/RJ, um sindicato que sempre lutou contra a privatização e o sucateamento das unidades federais e que denunciou problemas como as compras erradas de vacinas pelo Ministério da Saúde e convênios com laboratórios privados que levaram à infecção por HIV. Destaco porém que que a gestão Nísia praticou um projeto de governo que inclui não apenas o fatiamento, mas o fim do concurso público. Na minha visão, Padilha será a mesma coisa que Nísia, será trocar seis por meia dúzia. Por isso temos de continuar nos mobilizando e denunciando”, frisou ele.

“É preciso parar com esse discurso raso que atrela misoginia à saída de Nísia Trindade. Afinal, Nísia deixa o Ministério da Saúde porque foi péssima gestora, foi autoritária, truculenta e entreguista. Não dá pra defender mulher só por ser mulher. Nenhum outro ministro executou as arbitrariedades que Nísia cometeu. Ela não respeitou os profissionais do SUS, foi ditadora e violenta, chegando a chamar o Batalhão de Choque contra servidoras que defendiam a rede da mais nefasta entrega a que já assistimos. A gestão Nísia permitiu que pacientes com câncer ficassem à míngua em seus tratamentos. A história mostrará o quanto a gestão Nísia foi de doença e morte, mas não de saúde. Nísia já vai tarde”, afirmou Maria Isabel Amarante Mariano, servidora do Hospital Cardoso Fontes e dirigente do Sindsprev/RJ.
Também lotada no Cardoso Fontes e dirigente do sindicato, Neusa Beringui lembrou a pouca habilidade política de Nísia para negociar com os trabalhadores da rede. “Antes de tudo, considero que a saída da ministra Nísia não tem relação alguma com misoginia. O que ocorreu foi uma falta de traquejo político dela na escolha de sua equipe para atender às complexas demandas do Ministério da Saúde ou talvez ela nem tenha tido autonomia para essa escolha. O que nós, servidores, testemunhamos nos hospitais federais do Rio de Janeiro foi um verdadeiro desmonte conduzido por gestores autoritários que recorreram ao uso da força policial contra trabalhadoras que apenas defendiam seus direitos. Esse cenário incluiu repressão com gás de pimenta e até detenções, como ocorrido durante a resistência à entrega do Hospital de Bonsucesso ao Grupo Conceição”, disse.

Além do fatiamento da rede, a gestão Nísia Trindade nunca cumpriu o disposto no acordo de greve de 2023 na saúde federal. Acordo que previa direitos inegociáveis, como o de receber o adicional de insalubridade em valores corretos e o fim dos desvios de função. A gestão Nísia também promoveu a demissão em massa de 392 pessoas, deixando-as com salários em atraso e sem rescisão.
Outra marca da gestão Nísia foi perseguir quem se opusesse a seus planos, como ocorrido com Cristiane Gerardo, que atualmente responde a 4 processos administrativos disciplinares (PADs).
