Um autogolpe imposto pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com a instauração de uma ditadura sob seu comando no Brasil, estaria fadado ao fracasso, por falta de apoio interno e externo. Já a possibilidade de um impeachment do chefe de Estado pode se concretizar a médio prazo. A avaliação é de Aluizio Alves Filho (foto), doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), mestre em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) da Universidade Candido Mendes (UCAM) e professor aposentado da UFRJ e da PUC/RJ.
“A médio prazo, o impeachment pode acontecer de um lado porque suas bases de sustentação social (do governo Bolsonaro) estão ruindo e, de outro, porque, apoiado na areia movediça do neoliberalismo, não tem como dar respostas às candentes questões econômicas e sociais de um país que está descendo a ladeira”, argumenta. Disse que o apoio de setores econômicos importantes à administração Bolsonaro, como bancos e agronegócio, é conjuntural e pode acabar a qualquer momento.
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“Banqueiros e agronegocistas não só apoiaram o atual governo, como continuarão apoiando enquanto lhes interessar, se não, saltam do bonde sem ao menos olhar para trás”, afirmou.
Sindsprev/RJ – O presidente Jair Bolsonaro nunca escondeu sua admiração pelo regime ditatorial, defendendo o seu retorno no Brasil. Seus filhos e vários ministros têm a mesma opinião. O governo vive uma crise muito grande, com demissões seguidas de ministros, isolamento crescente e revelações graves feitas por ex-aliados sendo investigadas, podendo dar origem ao impeachment.
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Mesmo assim, o presidente radicaliza cada vez mais o seu discurso e suas ações, parecendo querer, com isto, dar mais coesão a setores que apoiam suas ideias, dentro das forças armadas, nas polícias, nas milícias e em grupos paramilitares que começam a ter mais consistência e visibilidade. O senhor acredita na possibilidade de um autogolpe de Bolsonaro?
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Aluizio Alves Filho – Sobre a possibilidade de um autogolpe de Bolsonaro, vou estabelecer uma comparação com o golpe de 1964. Em 1964 a “esquerda” [termo aqui usado com sentido bem amplo] não tinha nenhum preparo para resistir a um golpe armado. Estava preparada para um embate formal nos limites de um sistema constitucional. O golpe pegou o governo (João) Goulart pelas costas, de surpresa. Os golpistas contaram com forte apoio na imprensa e – num primeiro momento – com instituições representativas como a OAB, a ABI e a CNBB e com o respaldo maciço da burguesia e das camadas médias urbanas apavoradas com o fantasma do comunismo. Bem diverso é o quadro atual. O mais possante meio de comunicação de massa do país – a TV Globo – é radicalmente contra qualquer tentativa de golpe. Idem OAB, ABI e CNBB. Embora o coronavírus inviabilize manifestações de rua, as redes sociais – coisa que não havia em 1964 – se por um lado possibilitaram o nascimento dos bolsominions, por outro dotaram milhares de pessoas de consciência da necessidade de barrar qualquer tentativa de volta ao passado, como parece ser a intenção liderada por um adepto de tortura, portanto inimigo do cristianismo, no país. Externamente, o governo Bolsonaro, pelas notícias correntes, é super malvisto, e um golpe no Brasil seria fortemente repudiado nos quatro cantos do mundo. Também não aparenta – embora tente – ter respaldo para dar um golpe junto à alta cúpula das Forças Armadas e, muito menos, do Supremo Tribunal Federal. Em suma, acho muito pouco provável que uma tresloucada tentativa de golpe, na atual conjuntura, possa ser vitoriosa.
Sindsprev/RJ – Inúmeras atitudes e falas de Bolsonaro desrespeitam a Constituição Federal. São posicionamentos públicos contra a democracia e instituições como o Congresso Nacional e o STF, pelo retorno da ditadura, somadas às inúmeras suspeitas de envolvimento com a milícia, mais o boicote ao isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus. A situação se complicou com a instauração de inquérito no STF para apurar se houve crime de obstrução de justiça por parte de Bolsonaro ao demitir o superintendente da Polícia Federal no Rio e o diretor-geral da PF, como denunciou o ex-ministro Sérgio Moro. O ex-aliado Paulo Marinho também faz revelações que confirmam o interesse do presidente em interferir na PF do Rio para defender sua família. O senhor acredita na possibilidade de impeachment?
Aluizio – Penso que a curto prazo a hipótese do impeachment de Bolsonaro está descartada. Isso porque o ex-capitão ainda tem muita gordura para queimar e, no momento, o principal aliado que tem para evitar o impeachment é o coronavírus. Por três razões: a) o coronavírus impede manifestações de rua a favor do impedimento; b) na conjuntura atual, tirar Bolsonaro me parece ser um ato de loucura quase do tamanho da loucura das urnas terem feito de um aventureiro totalmente despreparado para tal ter se tornado presidente da República. Tirá-lo agora seria como incrementar a crise na crise, e ninguém sabe onde o país iria parar, pois já está no fundo do poço; e c) sutilmente o maquiavélico, Bolsonaro manipula o gado e o olho gordo de empresários e comerciantes, defendendo a economia de mercado contra a ciência e arranjando um estratégico e momentâneo apoio mequetrefe desses segmentos. A médio prazo, o impeachment pode acontecer de um lado porque suas bases de sustentação social estão ruindo e, de outro, porque, apoiado na areia movediça do neoliberalismo, não tem como dar respostas às candentes questões econômicas e sociais de um país que está descendo a ladeira.
Sindsprev/RJ – Principalmente os bancos e importantes setores do empresariado, como o agronegócio, apoiaram a candidatura Bolsonaro. Como estariam posicionados estes setores hoje, em relação ao governo e à possibilidade de afastamento do presidente?
Aluizio – A experiência histórica deixa claro que banqueiros e o empresariado ligado ao agronegócio estão entre as frações da burguesia mais indiferentes a preceitos democráticos, a direitos humanos e às condições de vida da população. Manifestam cultuar o deus dinheiro e apoiar os governos que seguem a mesma cartilha. Daí, embora não conheça pesquisas a respeito, penso que banqueiros e agronegocistas não só apoiaram o atual governo, como continuarão apoiando enquanto lhes interessar, senão, saltam do bonde sem ao menos olhar para trás.
Sindsprev/RJ – A queda cada vez maior da popularidade de Bolsonaro pode ser um fator que favoreça o impeachment?
Aluizio – Claro que pode. Até nas redes sociais fica claro que o gado encolhe dia a dia, ficando cada vez mais magrinho. Cada vez mais magrinho e mais agressivo, como se vê em carreatas mostradas na mídia e redes sociais. A agressividade aumenta, vendo comunistas em toda parte, pedindo ditadura, AI-5 e fechamento do Congresso. Não entendo como essa gente toda não é presa e processada na forma da lei. Mas o que me importa aqui destacar é que esse aumento de uma irascível agressividade é indicativo de que o gado está sentindo a vaca indo para o brejo. Ora, é sabido que quem se sente perdido reage de forma agressiva e é exatamente o que o gado está fazendo. Não tenho dúvida de que o encurtamento do rebanho favorece o caminho para o impeachment do espertalhão desastrado, mormente porque os elementos que mais têm debandado do rebanho são os que fazem parte do gado mais letrado e, neste sentido, como regra, socialmente mais influente.
Sindsprev/RJ – O senhor descarta para este momento a hipótese de um impeachment a partir de um processo aberto pelo Congresso Nacional, em decorrência do atual quadro político. Mas e se o impeachment vier como consequência de investigações como as que vêm sendo feitas pela Polícia Federal como parte do inquérito aberto pelo ministro Celso de Mello, do STF? Um impeachment com base técnica que comprove o cometimento de crime de responsabilidade por parte do presidente, ao obstruir o trabalho da Justiça demitindo gente da PF para proteger sua família e a si mesmo?
Aluizio – Acho que o impeachment vindo por esse caminho é bem mais plausível que vindo pelo Congresso, onde o Bolsonaro tem mais bala na agulha para embananar (vide centrão). Mas, ocorrendo, não será amanhã. Isso porque a Justiça é morosa, e penso que, pelas razões que listei, năo há interesse em tirá-lo correndo no meio do pandemônio que está aí.