A greve dos servidores da rede federal de saúde do Rio de Janeiro teve o seu ‘Dia D’ nesta terça-feira (05/11). A expressão faz referência à importância do movimento contra o processo de fatiamento e privatização da saúde federal e a entrega do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) para o Grupo Hospitalar Conceição, promovido pela ministra Nísia Trindade. Para destacar a iniciativa, os servidores chamaram o ato de paralisação 24h.
A enfermeira Roseane Vilela explicou que o objetivo foi intensificar e mostrar, mais uma vez, a insatisfação dos servidores. “Queremos mostrar para a direção a necessidade de um diálogo. Na semana passada, foi votado o Dia D, que seria o dia de parar 24h, que foi divulgado nas redes sociais. Fomos surpreendidos por uma funcionária do Grupo Conceição por ela dizer que desconhecia essa paralisação de hoje e exigia da gente uma comunicação oficial. Colocamos que a greve, que ultrapassou cinco meses, foi comunicada e julgada legal. Como ela não sabe? A paralisação está dentro do movimento de greve”, frisou.
Roseane Vilela lembrou ainda que uma representante da empresa argumentou que, nesta terça-feira (05/10), alguns pacientes vieram de longe e estão retornando para suas residências sem atendimento. “Se tivesse cumprido desde o início da greve o que foi proposto, isso não teria acontecido. Foi acordado a suspensão das cirurgias eletivas. Solicitamos que os médicos suspendessem suas atividades. Infelizmente não houve essa adesão, mas mantivemos a paralisação de 24h, sim. O grupo de setor de internação está aderindo à greve e vai fazer o papel de grevista. É permitido que entre pacientes oncológicos e sejam realizadas cirurgias de emergências”, lembrou.
Sidney Castro, dirigente do Sindsprev-RJ, criticou a reação da responsável pela assistência da empresa Conceição, ao declarar que não tinha conhecimento da greve. “Estamos construindo um diálogo com o ministério da Saúde desde o dia 15 de maio. Essa empresa entrou e pensa que vai fazer o que bem entender com os funcionários. Os servidores fizeram concurso para o ministério da saúde. São servidores estatutários, concursados que não entraram pela janela. Não entraram com a força policial. Entraram através de concurso que fizeram e foram aprovados. Por isso estão aqui”, apontou.
O dirigente acrescenta que o movimento é correto, justo, lembrando que a justiça reconheceu a legalidade do movimento. “Vamos continuar com a greve. Continuar com o movimento. Dialogando junto com a população e com os profissionais até que eles tenham o entendimento de dialogar com o corpo de funcionários, com a comissão e o comando de greve que existe aqui na unidade”, avisou.
Sidney Castro também destacou o comprometimento dos servidores em greve. “A pressão é muito grande. Vários colegas entraram em depressão. Eles vivem uma situação muito complicada. Será que vou ficar no mesmo setor? Será que a carga será a mesma? Pressão psicológica. O servidor não sabe o que vai ter pela frente na hora do trabalho. E a ministra, que é uma grande traidora do SUS, permite que isso aconteça com seus servidores. Ela deveria blindar os servidores. Não permitindo que uma empresa, que vem de fora e não conhece a realidade desse hospital, fazer o que está fazendo. Se quer liberar, libera logo. Para seguir a vida deles. O que não é justo é essa pressão em cima dos funcionários”, avaliou, para em seguida explicar que o objetivo do dia D é frear essa postura. “A unidade é lugar dos servidores que prestaram concurso. Eles não podem chegar aqui e achar que é o quintal da casa deles. Se querem diálogo tem um núcleo de diálogo do Comando de Greve, núcleo do sindicato disposto a dialogar. O que está havendo é falta de diálogo. O Sindsprev-RJ só tem um lado que é da categoria. Se quer dialogar, será conforme a pauta da categoria”, avisou.
Monique Flora, da Central de Material de Esterilização (CME), disse que a maior indignação dos servidores é quanto a iniciativa da empresa Conceição em implantar uma carga horária considerada inadequada. “A maioria tem outro emprego, tem família. A escala não condiz com a nossa realidade. Os servidores devem ficar atentos. Tem que se conscientizar. Eles querem usar a gente para treinar o pessoal deles e daqui a dois ou três meses nos dispensarem. Não é assim, não. Eles têm que entrar respeitando o direito da carga horária de cada servidor. Cada um tem a sua vida ajeitada com as escalas, com outro emprego. Eu represento todos os colegas que têm outro emprego. Se ficar assim, simplesmente, vai ter que se adequar a escala deles. Vocês querem isso? Eu não quero”, enfatizou.