Em meio a especulações sobre a possível volta do pagamento do auxílio-emergencial a 66 milhões de brasileiros em situação de extrema pobreza, setores do governo Bolsonaro e do Congresso Nacional, com apoio da mídia patronal, vêm intensificando os ataques ao funcionalismo público.
A mais recente das propostas levantadas por esses setores é apresentar o corte de direitos dos servidores públicos como se fosse algo ‘necessário’ e uma das ‘pré-condições’ para a volta do pagamento do auxílio emergencial, numa operação midiática muito semelhante à que foi encenada na época do governo Collor, quando então todos os trabalhadores do serviço público foram indistintamente acusados de ‘marajás’ e ‘privilegiados’. Tanto naquela época como agora, o objetivo é jogar a população contra o funcionalismo e assim desviar o real foco do debate sobre quais os setores sociais e econômicos que realmente devem custear a prorrogação do auxílio-emergencial.
A última coisa que o governo Bolsonaro e o Congresso Nacional desejam é que, em meio ao debate sobre a prorrogação do auxílio, surjam propostas de financiá-lo por meio da suspensão de todos os privilégios tributários e fiscais concedidos a grandes empresas. Ou então que, mesmo de forma indireta, surjam propostas para taxação das grandes fortunas e dos lucros pornográficos auferidos pelos grandes brasileiros.
É por isso que, para Bolsonaro e o Congresso, os servidores públicos precisam ser eleitos como os ‘bodes expiatórios’ da atual crise. Aqueles que devem pagar a conta. Tudo para que grandes empresários, banqueiros e especuladores (este sim, os verdadeiros privilegiados) mantenham intocadas suas bilionárias fortunas e margens de lucro.
Para efeito de comparação, em 2020 o governo gastou cerca de R$ 254,2 bilhões com o pagamento do auxílio-emergencial.
No mesmo ano, porém, o governo concedeu R$ 348 bilhões a grandes empresas, sob a forma de isenções de impostos e incentivos tributários. Dinheiro que deveria ter entrado no caixa do estado, mas do qual o governo Bolsonaro abriu mão em benefício das (já altíssimas) margens de lucro das grandes empresas.
Se governo e Congresso falam tanto em prorrogar o auxílio-emergencial, por que então não suspender essas bilionárias isenções aos capitalistas e aplicar os recursos na prorrogação do auxílio?
Outra pergunta: por que não taxar as pornográficas taxas de lucros dos grandes bancos brasileiros — como Bradesco, Itaú-Unibanco, Santander e Banco do Brasil? Em 2020 esse lucro superou R$ 85 bilhões.
Lucros obtidos por meio de especulação no mercado financeiro e da mais descarada superexploração imposta a milhões de correntistas indefesos e submetidos a taxas de serviço e de juros cada vez mais escorchantes.
O funcionalismo público brasileiro não aceitará que o transformem no ‘lobo mau’ da discussão sobre o auxílio-emergencial. A prorrogação do auxílio — tão necessária a milhões de brasileiros — deve ser custeada pelo fim dos privilégios concedidos a grandes empresas e pela taxação das grandes fortunas, incluindo os lucros dos grandes bancos.