Décimo romance escrito pelo grande José Lins do Rego (1901-1957), ‘Fogo Morto’ é um dos clássicos da literatura brasileira de todos os tempos. Publicada em outubro de 1943, a obra insere-se no quadro do chamado romance nordestino, cujos expoentes maiores são ‘O Quinze’, da escritora modernista Raquel de Queiróz, de 1930, e ‘A bagaceira’, de José Américo de Almeida (1928).
Fogo Morto é a obra mais intensa, o livro mais denso de José Lins. O texto no qual o escritor demonstra maior capacidade de construção psicológica e dramática de suas personagens.
A história gira em torno de três figuras centrais que, por sua importância, estruturam o “enredo” — na verdade, o entrelaçamento de três biografias distintas e, ao mesmo tempo, muito próximas: a do mestre José Amaro; a do major e senhor de engenho Lula de Holanda; e a do capitão Vitorino Carneiro da Cunha, misto de quixote sertanejo com ares e psicologia de bufão decadente.
Sob um pano de fundo marcado pelo sufocante clima social das decadentes regiões açucareiras do Nordeste brasileiro — onde a opressiva herança colonial ainda se faz presente por meio das mais abjetas manifestações de desprezo, racismo e preconceito contra pobres, negros e desvalidos —, o romance Fogo Morto consegue, no entanto, construir belos momentos de poetização e lirismo, conjugado a uma linguagem ficcional popular e despojada.
É obra-prima de rara beleza. Leitura obrigatória para todos os que querem (e precisam) travar contato com o que de melhor já foi produzido em nossas letras.