Assembleia dos servidores do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) realizada na manhã desta quarta-feira (2/10) aprovou o início de uma ocupação permanente das salas onde fica a direção-geral da unidade — no 5º andar do prédio 4 —, em protesto contra a entrega do HFB ao Grupo Hospitalar Conceição. Realizada no auditório do prédio da maternidade do HFB, a assembleia teve participação de servidores de outras unidades da rede federal e também deliberou que, de cada setor do Hospital de Bonsucesso, 10% dos trabalhadores participem da ocupação.
Ainda como deliberação da assembleia, nesta quinta-feira (3/10) os servidores vão lançar um manifesto em defesa do Hospital de Bonsucesso, contra a entrega da unidade ao Grupo Conceição e contra o fatiamento/privatização/municipalização de todas as unidades da rede federal. O ato de lançamento será a partir das 10h, na Praça da Liberdade, dentro do HFB.
Imediatamente após a assembleia desta quarta-feira (2/10), os servidores que lotavam o auditório da Maternidade começaram a se deslocar em direção ao 5º andar do prédio 4, onde estão localizadas as salas da direção-geral do HFB. Lá chegando, uma comissão de trabalhadores foi recebida pela diretora-geral, Maria Célia Carvalho Pereira. Após ser informada das deliberações da assembleia e da disposição dos servidores de começarem imediatamente a ocupação, Maria Célia respondeu que comunicaria o fato à titular do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), Teresa Navarro, como procedimento formal necessário. A diretora-geral do HFB foi solicitada a colaborar com a ocupação, no sentido de providenciar colchonetes e alimentação para os servidores. De comum acordo com Maria Célia, os servidores não ocuparão a sala de trabalho da diretora-geral, para que a gestora não seja prejudicada no exercício de suas funções administrativas à frente do Hospital de Bonsucesso.
Homenagem ao comando de greve do HFB
A assembleia foi iniciada com uma exortação de Sidney Castro, dirigente do Sindsprev/RJ, ao comando de greve do Hospital de Bonsucesso. “Desde o início da greve as companheiras que integram o comando andaram todos os setores do HFB para que os servidores entendessem a necessidade de um grande movimento contra a entrada do Grupo Conceição. Fizemos ato na porta do HFB, fizemos ato na Av. Brasil, num esforço para sensibilizar os servidores quanto à necessidade da nossa luta. O comando de greve do Hospital de Bonsucesso tem que ser respeitado, mas também é preciso que todos nós, servidores, estejamos dispostos a reagir para defender o Hospital e os nossos postos de trabalho, pois o governo só está esperando o fim do processo eleitoral para entregar o HFB ao Grupo Conceição. Ou reagimos agora, ou não haverá solução. Nós não queremos o Grupo Conceição e não precisamos do Grupo Conceição”, frisou ele, sob palmas da assembleia, que também aplaudiu o comando de greve.
Durante toda a assembleia, os oradores alertaram para as consequências diretas e indiretas da entrega do HFB ao Grupo Conceição, como a ameaça à jornada de 30h semanais, o fim dos APHs, o encerramento dos CTUs e a completa descaracterização do Hospital de Bonsucesso como unidade pública de saúde voltada à alta complexidade. A avaliação predominante foi de que a entrada do Grupo Conceição também vai tornar ainda mais difícil a conquista de reivindicações básicas para a rede federal, como concurso público, enquadramento dos auxiliares como técnicos de enfermagem e inclusão na carreira da Ciência e Tecnologia.
“É preciso reagir, e tem de ser agora”, afirma dirigente do Sindsprev/RJ
Dirigente do Sindsprev/RJ em Jacarepaguá, Cristiane Gerardo reforçou as críticas à política do governo Lula (PT) para o HFB e demais unidades da rede federal de saúde. “O Hospital de Bonsucesso não é apenas um posto de trabalho, mas uma estrutura de luta e resistência. Afinal, a rede federal é a nossa estrutura, e cada unidade é referência deste complexo hospitalar. Precisamos de estratégia para lutar em defesa do HFB porque a iminência da entrega do Hospital de Bonsucesso ao Grupo Conceição coloca uma responsabilidade sobre vocês, servidores da unidade. O Grupo Conceição possui uma visão privatista para o serviço público. Alguém aqui acha que os direitos de vocês serão respeitados pelo Grupo Conceição? É preciso reagir, e tem de ser agora”, disse.
“Sabemos que o APH é importante, mas neste momento a nossa prioridade é o nosso local de trabalho. Então o momento é de irmos para o enfrentamento. Não queremos perder o Hospital de Bonsucesso de jeito nenhum, como também não queremos perder o Cardoso Fontes e todas as unidades da rede”, afirmou Neusa Beringui, servidora do Cardoso Fontes.
Médico lotado desde 1993 no Hospital de Bonsucesso, Francisco Xavier Oliveira manifestou seu protesto. “Nossa unidade é na verdade um complexo hospitalar com sete prédios, construído em 1948, no governo Dutra. Precisamos dos hospitais federais para a alta complexidade. Então, não podemos entregar o Hospital de Bonsucesso”, disse.
Também médico lotado no HFB, Júlio Noronha reforçou as críticas. “Somos estatutários. Não sei o que vai acontecer com os CTUs e os terceirizados. O governo quer mudar o CNPJ do Hospital de Bonsucesso, para que o nosso hospital vire uma entidade filiada ao Grupo Conceição. Se isto acontecer, não haverá respeito às 30h semanais. Precisamos saber em que pé está a cessão dos bens móveis e imóveis do HFB. Somos estatutários e temos o direito e o dever de saber. Por isso é tão cruel não sermos informados dessa situação. Precisamos mostrar firmemente que não queremos o Grupo Conceição aqui”, frisou ele.
Presidente do Conselho Municipal de Saúde do Rio (CMS-RJ) e dirigente do Sindsprev/RJ, Osvaldo Mendes posicionou-se mais uma vez contra o fatiamento da rede federal. “Não podemos entregar este hospital e nenhuma outra unidade. O governo tem que respeitar o Hospital de Bonsucesso e os seus trabalhadores e trabalhadoras. Precisamos resistir”, disse.
“Somos absolutamente contrários à municipalização e ao fatiamento, e é assim que temos nos posicionado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O governo está esperando apenas passar a eleição, e depois vem o rolo compressor. Assim, só temos um caminho, que é o da dignidade, de resistir pela dignidade da nossa vida. Temos que reagir. Estaremos juntos na defesa da saúde pública de qualidade. Vamos à luta”, completou o vereador Paulo Pinheiro (PSOL), presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal do Rio.