Mais uma má notícia para assombrar a vida dos servidores da saúde federal e dos pacientes do Rio de Janeiro. O Ministério da Saúde avalia uma mudança estrutural, com a possibilidade de transferir o controle do Instituto Nacional do Câncer (Inca), do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) e do Instituto Nacional de Cardiologia (INC) para o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), uma empresa pública vinculada ao governo federal e sediada no Rio Grande do Sul.
A iniciativa vem no momento de grave crise de abastecimento de medicamentos e insumos nestas instituições. A situação é caótica no Inca, onde ocorreu um colapso no fornecimento de insumos. Profissionais de saúde denunciam que a escassez de remédios como morfina, fentanil e baclofeno, essenciais para o controle da dor, além de antibióticos e até insulina, colocam vidas em risco.
A situação piora com a falta de itens básicos como luvas cirúrgicas, cateteres e esparadrapo. Diante do caos, muitas famílias são obrigadas a arcar com despesas para garantir a continuidade dos tratamentos.
O Grupo Hospitalar Conceição começou a gerir o Hospital Federal de Bonsucesso em outubro, numa gestão com vários problemas, prejudicando as condições de trabalho e o atendimento à população.
Servidores das três instituições temem impactos negativos na assistência. Por conta disso, representantes de associações de funcionários se reuniram, no último dia 25/3, com o ministro Alexandre Padilha para expressar preocupações sobre a medida.
No encontro foi afirmado que o Grupo Hospitalar Conceição não possui expertise necessária para administrar institutos especializados. Foram lembrados ainda os problemas enfrentados no Hospital de Bonsucesso. Os servidores destacam que os médicos contratados para a emergência da unidade são pessoas jurídicas sem vínculo permanente com o serviço público e sem experiência adequada para atuar em hospitais de alta complexidade.
Christiane Gerardo, diretora do Sindsprev/RJ, considera absurdo o Ministério da Saúde entregar tratamentos altamente especializados que deveriam ser de políticas privativas de Estado à Empresa Pública Privada.
“O Ministério da Saúde inviabilizou as unidades federais do Rio com um congelamento de 10 anos de recursos e sem concurso público desde 2005. Aprofundou a lógica do desmonte e abandono para surgir com a privatização como solução”, lamentou.
Segundo a dirigente, as unidades federais sempre foram referências em oncologia.
“Se a lógica do Governo é reduzir o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento, não deve privatizar e, sim, atualizar o parque tecnológico das unidades; fazer concursos públicos; efetivar uma carreira digna para os profissionais; e atualizar o orçamento das mesmas”, ressaltou.
Roseani Villela, enfermeira do Hospital Geral de Bonsucesso, trabalhou 25 anos no Inca, dois como residente, e 23 como profissional da enfermagem. Segundo ela, nesse período, não faltava material nem medicamento.
“O Inca sempre foi de excelência. Hoje, a situação é a mesma dos hospitais federais. Eles propiciam o sucateamento para justificar a entrega à rede privada. Foi exatamente assim com o Hospital Federal de Bonsucesso. A mídia sempre informando que faltava medicamento, material e o atendimento era ruim, culminando com a entrega para o Grupo Conceição”, criticou.
A enfermeira destaca que o Grupo Hospitalar assumiu a gestão do HFB em outubro e nada mudou.
“Continua com falta de material, falta remédio. Não resolveram a falta de pessoal. Nem com processo seletivo. Estão contratando médico para a emergência, através de PJ. São pessoas que não tem vínculo, não tem compromisso com a instituição. A gente fica sujeito a trabalhar com pessoas que não sabemos a índole, não conhecemos sua capacidade técnica. O atual governo Lula decepciona muito os eleitores dele. Nunca imaginei que ele fosse descaracterizar e desmerecer o funcionário público federal. E pior. Falar mal do sindicato. O Lula sempre foi sindicalista. Eu não conheço mais esse presidente”, frisou.