Causou enorme indignação a decisão do ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, anunciada no último dia 15/6, de acionar a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República (PGR) para que abram inquérito policial a fim de investigar uma charge reproduzida pelo jornalista Ricardo Noblat que associa o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao nazismo. A charge é de autoria do cartunista Renato Aroeira.
O desenho critica com humor as atitudes autoritárias e de caráter nazifascista do presidente da República. Entre elas, o incentivo à invasão de hospitais para filmar pacientes com covid-19. Bolsonaro acaba gerando, ainda, um verdadeiro genocídio ao boicotar o isolamento social, ao defender a volta da ditadura e da tortura, ao atacar a democracia, com ameaças constantes de golpe de Estado, insistir em falas estimulando a eliminação da esquerda e em discursos e ações contra negros, mulheres, gays e a liberdade de imprensa que fazem lembrar o comportamento de fascistas clássicos como o italiano Benito Mussolini e o alemão Adolf Hitler.
Sindsprev/RJ condena censura
Para o diretor do Sindsprev/RJ Sidney Castro, o pedido de instauração de inquérito policial contra os jornalistas reforça a denúncia da própria charge de que este é um governo com características autoritárias e fascistas. “Me parece que o governo vestiu a carapuça. É um governo que não admite críticas, que censura, que persegue, que defende o fim da democracia e a volta da ditadura, que expõe os profissionais de saúde ao incitar grupos bolsonaristas a invadirem hospitais em que estão internados pacientes contaminados por covid-19, um governo irresponsável, cujo presidente há muito deveria ter sido afastado do cargo”, afirmou.
A decisão do ministro da Justiça de Bolsonaro também foi criticada pelo jornalista e coordenador da Secretaria de Imprensa do Sindsprev/RJ, André Pelliccione. “A atitude do André Mendonça, pedindo a proibição das charges do Aroeira, bem reflete o que tem sido o governo Bolsonaro, com seu caráter protofascista. É uma tentativa evidente de intimidação, típica de uma concepção de Estado policial defendida por Bolsonaro, quando ele confronta as instituições, através da incitação de uma massa de apoiadores”, lembrou.
Acrescentou que Bolsonaro ataca a imprensa todos os dias e vem tomando medidas que reduzem a transparência da relação do governo brasileiro com a sociedade. “Um exemplo disto foi a recente decisão do ministério da Mulher, da Família e de Direitos Humanos de retirar, do relatório de 2019 sobre violência, os dados relativos à violência policial cometida ano passado. O que é mais um claro sinal de um governo autoritário”, acusou. Para o jornalista, a sociedade não pode agir passivamente. ”É preciso reagir contra a censura e demais atitudes ditatoriais do governo Bolsonaro”, defendeu.
Jornalistas de vários veículos de comunicação também condenaram a decisão do ministro bolsonarista. Cartunistas de todo o país e do exterior, em solidariedade a Aroeira, decidiram fazer charges sobre o mesmo tema e promover uma campanha em apoio a ele. Usando a tag #SomosTodosAroeira, os profissionais repudiaram a decisão do ministro da Justiça. Foi lançado, ainda, um abaixo-assinado contra a censura e em solidariedade a Noblat e Aroeira (http://chng.it/yz6YzJTL).
STF alerta contra práticas nazistas
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro emitiram nota condenando a instauração do inquérito policial contra os dois jornalistas, decisão do governo que lembra os tempos da ditadura militar no Brasil e mostra o uso da censura como arma política para calar qualquer tipo de crítica.
O documento lembra que as seguidas atitudes autoritárias de Bolsonaro têm levado amplos setores da sociedade a se manifestar. Cita recente mensagem a seus pares no Supremo Tribunal Federal, do decano daquela corte, ministro Celso de Mello, em que foi claro e direto ao alertá-los e, com isso, a toda a Nação Brasileira: “É preciso resistir à destruição da ordem democrática, para evitar o que ocorreu na República de Weimar, quando Hitler, após eleito por voto popular (…), não hesitou em romper e em nulificar a progressista, democrática e inovadora Constituição de Weimar (…) Intervenção Militar, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia, nada mais significa, na novilíngua bolsonarista, senão a instauração, no Brasil, de uma desprezível e abjeta ditadura militar!!!”.
No documento a federação ressalta: “Na medida em que uma das mais altas autoridades do Poder Judiciário faz um alerta como este, prontamente divulgado por toda a imprensa brasileira sem maiores contestações, é inadmissível que o Executivo brasileiro, em uma demonstração de desrespeito às críticas, movimente todo o aparelho policial/repressivo contra o chargista Renato Aroeira e o jornalista Ricardo Noblat por conta de uma charge que reflete em desenho o que muitos, como o decano do STF, temem que aconteça”.