O peixe morre pela boca, diz o ditado popular válido para todos, inclusive para Jair Bolsonaro (sem partido). Há farto material – centenas de entrevistas, falas a apoiadores e à mídia, vídeos oficiais e não oficiais postados nas redes sociais – comprovando que o presidente da República cometeu crime de responsabilidade ao sistematicamente boicotar medidas de prevenção contra o novo coronavírus, como o isolamento social, rejeitar a compra de vacinas, participar de aglomerações e incentivá-las, além de não utilizar máscaras, sendo, por isto mesmo, um dos maiores responsáveis pelo Brasil ter chegado à impressionante marca de 3 mortos a cada minuto, em função da covid-19.
Todo este material mostra evidências de que Bolsonaro teria praticado crime de genocídio, tendo, por isto mesmo, que ser afastado do cargo, julgado e preso. Mas, além disto, podem ser levantadas provas documentais e testemunhais de omissões e ações do governo federal que contribuíram para o país chegar a 350 mil mortes, um recorde mundial.
Somente uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) tem poder de fazer este tipo de levantamento, como a que está para ser instalada no Senado Federal para investigar ações e omissões do governo federal responsáveis por transformar a pandemia no Brasil numa tragédia sem precedentes. Se funcionar como deve, pelos fatos já conhecidos publicamente, a CPI chegará à conclusão de que deve ser aberto um processo de impeachment contra o presidente por crime de responsabilidade.
Acuado
Por isto mesmo, Bolsonaro ataca a CPI. Sente-se acuado pelas evidências do cometimento de crimes que o afastariam do cargo e tenta evitar a sua instalação. Busca, então, distorcer os objetivos da Comissão e inviabilizar o seu funcionamento, negociando com senadores, como Jorge Kajuru (Cidadania-GO), a inclusão de governadores e prefeitos nas investigações, quando esta é uma atribuição das Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
A tática desesperada de barrar as investigações já vinha sendo tentada antes por Bolsonaro. O presidente do Senado e seu aliado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), negava-se há meses a cumprir a obrigação de instalar a CPI, requerida pelo senador Randolphe Rodrigues (Rede-AP), que cumpriu todas as exigências feitas pela Constituição Federal, como a subscrição de apoio ao pedido de instalação de 1/3 dos senadores (32 assinaturas).
A tática de Pacheco era inconstitucional e o presidente do Senado só acolheu o requerimento por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Roberto Barroso, no dia 8 último. A decisão liminar do ministro do STF foi dada em resposta ao mandado de segurança apresentado pelos senadores Jorge Kajuru, o mesmo que conversou com Bolsonaro concordando com a tática de incluir nas investigações governadores e prefeitos, e Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Assista ao vídeo ao final desta postagem.
O primeiro passo para a instalação da CPI da Covid está previsto para esta terça-feira (13/4), quando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, deverá ler o requerimento em plenário. Depois, haverá a definição dos 11 senadores membros da comissão, o que também será determinante para os rumos da investigação. Caso Bolsonaro consiga que a maioria dos integrantes seja simpática a seu governo, a CPI poderá ter suas atividades limitadas.
Boicote à vacinação
O comportamento de Bolsonaro mostra sinais evidentes de genocídio. Apenas para citar um exemplo, o presidente boicotou a vacinação de diversas formas, com argumentos absurdos noticiados pela mídia, condenados por entidades nacionais e criticados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). E para isto usou justificativas torpes e toscas, que beiram a loucura. Chegou ao cúmulo de levantar a possibilidade de o vacinado ‘virar jacaré’ e sugeriu aos que cobravam dele a compra de vacinas que ‘pedissem dinheiro à mãe’.
Enquanto em todo o mundo a maioria dos países, já em agosto do ano passado, começaram a negociar com os laboratórios a compra massiva de imunizantes e seringas, planejando os processos nacionais de vacinação, o governo Bolsonaro se negava a fazer o mesmo e criticava as vacinas. Chegou a se recusar a responder a propostas de compra enviadas ao Ministério da Saúde pelos laboratórios, desde agosto. Este fato, associado ao boicote às medidas de prevenção, fez com que disparassem no Brasil o número de contaminados e mortos pela covid-19.
Hoje, o Brasil está entre os últimos na contratação de vacinas e é o segundo em número de mortes em todo o mundo, sendo o primeiro em óbitos diários. Em número de vacinados, aparece na 73ª posição, atrás de países como Israel, que encabeça a lista, países europeus e mesmo os latinos como Panamá e Argentina. Só 2,69% da população brasileira acima de 18 anos recebeu a segunda dose da vacina, podendo, dessa forma, ser considerados efetivamente imunizados. Para que se tenha uma ideia, somente 10% da população foi vacinada até o momento, por conta da sabotagem, da irresponsabilidade e do negacionismo do governo Bolsonaro.
Assista ao vídeo sobre a conversa entre Bolsonaro e Kajuru sobre a CPI, clicando no link abaixo: