O prefeito de Niterói Axel Grael (PDT) ataca o Sistema Único de Saúde (SUS), ao planejar privatizar o Hospital Carlos Tortelly (ex-CPN). Esta foi uma das denúncias feitas por parlamentares, dirigentes do Sindsprev/RJ, da Associação de Servidores da Saúde e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), durante o primeiro protesto, nesta quarta-feira (15/12), contra o projeto de Grael de entregar a unidade para um grupo privado denominado como organização social.
O ato faz parte de uma campanha de mobilização para reverter a decisão do prefeito.
Uma nova manifestação já está marcada para o dia 30 de dezembro, em frente à unidade, seguida de passeata pela Avenida Amaral Peixoto. A concentração será às 9 horas.
Ao final do ato, os participantes deram um abraço simbólico ao Carlos Tortelly. Em seguida, o representante da OAB e do Conselho Gestor do hospital, Fernando Tinoco, entregou uma “Moção de Aplauso”, em nome da entidade, ao diretor da unidade, Ubiratan Moreira Ramos. “Foi uma forma de homenagear os profissionais, na figura do gestor, pela forma heroica como salvaram e continuam salvando vidas na pandemia, mesmo tendo que enfrentar o corte criminoso de verbas feito pela Prefeitura com a intenção de privatizar a unidade”, disse Tinoco durante a entrega da moção.
Demissões em massa
Durante o ato desta quarta, a diretora do Sindsprev/RJ, Maria Ivone Suppo, condenou o projeto de Grael, que ao atacar o Carlos Tortelly, um hospital público, acaba atingindo o próprio SUS, o sistema público de saúde, cuja importância ficou ainda mais comprovada durante a pandemia, quando seus profissionais ficaram na linha de frente salvando milhares de vidas. “Agora estão ameaçados de serem mandados embora, porque é isso o que as chamadas OS fazem quando se apossam de um hospital público: trazem os seus apadrinhados e afastam os profissionais que já estão nas unidades”, lembrou Ivone.
Acrescentou, que, ao contrário do canto de sereia que a prefeitura vem espalhando, ninguém será aproveitado. “As OS têm seus próprios esquemas, e vão trazer empresas amigas para dentro do Carlos Tortelly, e o primeiro setor a ser atingido será o laboratório, justamente por ser altamente lucrativo para o setor privado”, disse.
Prefeito sucateia para privatizar
Faixas e cartazes acusavam Grael de ter a intenção de privatizar para beneficiar OSs, como já vem fazendo com a Viva Rio, regiamente paga para administrar o hospital Oceânico, particular, alugado pela Prefeitura. O diretor da Associação de Servidores da Saúde de Niterói, José Ricardo, lembrou que os empregos de todos, sobretudo os RPAs, estão em risco. “Em todos os hospitais e UPAs que entraram a primeira coisa que as OS fizeram foi mandar todos embora. E é o que farão, novamente aqui. Mas é possível barrar a privatização o que só conseguiremos através da mobilização conjunta dos profissionais que hoje see encontram ameaçados”, frisou.
O vereador Paulo Eduardo Gomes (PSOL) lembrou que a Prefeitura vem propositadamente cortando a verba da rede de saúde de Niterói para justificar a sua privatização. “É uma política que vai fazendo cair a qualidade de atendimento de maneira proposital. E isso fica claro quando a própria Prefeitura anuncia que vai investir R$ 25 milhões no Carlos Tortelly assim que a OS entrar. Por que não investe agora quando a gestão é pública?
Dinheiro não falta. Então, tudo isto soa mal, como se houvessem outros interesses em jogo”, afirmou.
Sebastião de Souza, diretora do Sindsprev/RJ, lembrou que as OS têm um péssimo histórico, sempre ligadas à corrupção, superfaturamento, propinas e que começaram a entrar no estado do Rio pelas mãos do ex-governador Sérgio Cabral, condenado e preso, entre outros motivos, por desvios na área da saúde. Frisou que, mais recentemente, o governador Wilson Witzel foi afastado do cargo por compras superfaturadas e cobrança de propinas, feitas por organizações sociais.
César Braga, da Associação de Servidores da Saúde, alertou que em São Paulo, que teve a saúde pública passada para as mãos das OS, 25% dos leitos passaram a ser usados por clientes de planos de saúde, com prioridade sobre o restante da população, acabando com a igualdade no atendimento, na chamada dupla porta de entrada. “O próximo passo é a cobrança pelo atendimento, como já acontece nos planos de saúde através das chamadas coparticipações, já que o objetivo das empresas privadas, como as OS, é ter cada vez mais e mais lucros”, afirmou.