O Sindsprev-RJ convoca os servidores da rede federal do Rio para assembleia extraordinária da rede federal na próxima terça-feira (3/6), a partir das 13h, no saguão do Hospital Federal da Lagoa (HFL). Na pauta: os próximos passos da luta contra o fatiamento de hospitais federais, incluindo o HFL.
A assembleia também vai apresentar informes mais detalhados sobre audiência realizada nesta quinta-feira (29/5), na Defensoria Pública da União (DPU), para debater a situação caótica da rede federal do Rio. Se você é servidor(a) da rede federal, compareça!
A audiência na DPU foi conduzida pela defensora Taísa Bittencourt Leal Queiroz, com presença de dirigentes do Sindsprev-RJ, trabalhadores do Hospital Federal dos Servidores (HFSE), do Hospital Federal de Bonsucesso (HFL), do Hospital Federal Cardoso Fontes (HFCF), do Hospital Federal do Andaraí e do Hospital Federal da Lagoa (HFL), incluindo a presidência do corpo clínico, a chefia do serviço de hematologia e médicos residentes. Também compareceram membros dos conselhos municipal e estadual de saúde do Rio de Janeiro.
Durante a audiência, servidores afirmaram o quanto o projeto de fatiamento da rede tem sido danoso para o SUS e a saúde pública como um todo. No caso do Hospital Federal da Lagoa, o governo quer extinguir e entregar a unidade ao Instituto Fernandes Figueira (Fiocruz), prejudicando o tratamento de 900 pacientes com câncer e a residência médica de 150 profissionais. No caso do Hospital dos Servidores, foi criticada a intenção do governo absorver aquela unidade nas estruturas do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, atualmente gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), exemplo de caos administrativo em praticamente todos os hospitais universitários.
Presidente do corpo clínico do Hospital Federal da Lagoa (HFL), Felipe Gomes lembrou que, no acordo de cooperação técnica recém-assinado, o corpo clínico não está representado para compor o grupo de trabalho e que isso representa um risco em potencial para o atendimento aos usuários: “o sistema de aquisição de insumos possui muitas especificidades. Isso já impacta na assistência hoje, com uma fila que enorme, que fica estagnada, pela dificuldade de compra de material”, disse. Segundo ele, a mudança de perfil Hospital da Lagoa deixará abandonados pacientes que dependem de assistência muito especifica, ofertada somente ali.
Médica do serviço de hematologia do HFL há 20 anos, Rose Filgueiras questionou: “o que será feito dos nossos 28 mil pacientes ambulatoriais? Atendemos 12 primeiras vezes por dia. Os pacientes hematológicos chegam gravíssimos, com um grau de fragilidade gigantesco, estão no fio de navalha. O serviço tem 52 anos de existência. Há um vínculo de confiança entre usuário e profissional. Nossos pacientes estão apavorados e adoecendo mais, emocionalmente, temendo o desamparo”, frisou ela, para em seguida continuar em suas críticas: “não somos desligados da luta do Instituto Fernandes Figueira, mas existem outras alternativas pra abrigar os pacientes. Um hospital foi erguido em Manguinhos, em menos de seis meses, então disso a Fiocruz pode dar conta. O fato é que romper com o perfil assistencial da lagoa é violentar um princípio do SUS, de integralidade e equidade”
Luiz Otávio Paiva, chefe dos residentes do HFL, completou destacando que a desassistência gera óbito mais rapidamente. “Não há um plano bem esquematizado de pra onde esses doentes vão. Nosso atendimento em oncologia é uma demanda muito grande. Somos um gargalo dentro da saúde”, protestou.

Enfermeira chefe do Serviço de Quimioterapia do HFSE, hospital que também está em vias de ser extinto pela fusão com o Gaffrée e Guinle, Carla Letícia Barbedo lembrou que hoje o hospital não conseguiria abarcar a demanda vinda do HFL.
Dirigente do Sindsprev/RJ, Christiane Gerardo ressaltou não haver justificativa para a extinção do HFL, baseado na necessidade de reestruturação do IFF, uma vez que há diversos imóveis públicos abandonados que podem abrigar o novo instituto. “As duas unidades [Lagoa e HFSE] possuem missão e vocação institucional de oncologia e outras patologias que só encontram cuidado na rede federal. Isto porque, na atenção básica, é falho o fluxo de atendimento”, disse.
Na audiência, os trabalhadores e o Sindsprev-RJ também denunciaram os métodos autoritários de implementação do fatiamento, sem transparência e sem democracia, o que fere princípios básicos do SUS, como os da participação popular e do controle social.
Em relação aos hospitais já fatiados para organizações sociais e empresas privadas, como são os casos do Hospital Cardoso Fontes, do Hospital do Andaraí e do Hospital de Bonsucesso, os profissionais denunciaram o caos em que se encontram essas unidades e o quanto o cenário é falacioso e temerário, narrando inúmeras irregularidades através de denúncias já formuladas, mas ainda não acolhidas pelo Ministério Público Federal.
De sua parte, a defensora Taísa Bittencourt Leal Queiroz informou que estão realizando visitas às unidades, atestando as denúncias dos servidores e do Sindsprev-RJ, como pacientes internados em longarinas sem visitas médicas, entre outras. Taísa declarou, de forma incisiva, que a DPU atua na defesa de um SUS público, gratuito e de qualidade, comprometendo-se a buscar ações visando suspender o processo de fatiamento até a realização de nova audiência pública. ‘’Temos visto que a solução não está resolvendo. Temos visitado as unidades e a realidade é crítica. Farei essa defesa contra o sucateamento e fatiamento. A gente precisa que o judiciário intervenha. Dentro dos argumentos legais eu vou levar esse pensamento e pedir ao judiciário que se manifeste e freie a transferência de recursos”, afirmou a defensora Taísa Bittencourt Leal Queiroz, que também reconheceu a urgência da realização de novo concurso para a rede.
Além de Christiane Gerardo, participaram da audiência, na condição de dirigentes do Sindsprev/RJ, as servidoras Maria Isabel Mariano, Carla Letícia Barbedo, Ivanilda Ferreira, Heloísa Ferreira e Sandra Spindola. Osvaldo Sergio Mendes, embora também dirigente do Sindsprev/RJ, participou na condição de presidente do Conselho Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.