Assembleia dos servidores do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) realizada na manhã desta quarta-feira (31/7) aprovou a continuidade da greve na unidade, que a partir de agora deverá ser ampliada para outros segmentos além da enfermagem, como trabalhadores administrativos e médicos. O indicativo é de que todos os servidores (estatutários e CTUs) participem da greve unificada no Hospital.
Realizada no auditório do prédio da maternidade, a assembleia aprovou ainda uma massiva campanha de denúncia da traição dos compromissos assumidos por Lula (PT) durante a campanha eleitoral de 2022, quando o então candidato prometeu reerguer os serviços públicos de saúde. A campanha também terá como tema a denúncia do fatiamento e privatização da rede federal, com foco imediato nas três unidades mais diretamente ameaçadas neste momento: Hospital Federal de Bonsucesso, Hospital Federal dos Servidores do Estado e Hospital Federal do Andaraí.
A assembleia foi marcada por uma avaliação da greve da rede federal e as perspectivas do movimento. Um dos pontos de referência para a análise foi a postura da ministra Nísia Trindade (Saúde) durante a audiência com representantes do Sindsprev/RJ e da rede federal, ocorrida na última segunda-feira (29/7), em Brasília. Na ocasião, a ministra reafirmou a intenção de fatiar a rede.
“Se Nísia Trindade está irredutível, então ela tem que sair. Não estamos sendo respeitados. Temos de colocar Nísia para fora. Ontem [30/7] foi um avanço vermos o Conselho Municipal de Saúde do Rio rejeitar a municipalização do Hospital do Andaraí. Agora precisamos ampliar a luta. Aqui em Bonsucesso querem colocar o Grupo Hospitalar Conceição. Quanto à Ebserh, ela não deu certo em lugar nenhum. É uma irresponsabilidade acabar com o HFSE para entregar a unidade à Ebserh”, afirmou o médico Júlio Noronha.
Diretora-geral do Hospital de Bonsucesso, Maria Celia Carvalho Pereira compareceu à assembleia e posicionou-se contra o fatiamento da rede. “Quando assumimos o HFB, em 2023, vivíamos uma grande crise de desabastecimento. Então fizemos licitações para reduzir os problemas da unidade. Foi um esforço nosso, mas sem apoio do Ministério da Saúde. Ainda estamos em situação difícil e, recentemente, fomos surpreendidos pelo anúncio do fatiamento. O município do Rio não está apto para trabalhar com alta complexidade, o que poderá agravar o problema da desassistência. Precisamos juntar forças para dizer que não queremos fatiamento”, afirmou, sob aplausos gerais do auditório.
Presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, o vereador Paulo Pinheiro (PSOL) também analisou a situação da rede. “Os seis hospitais federais estão em estado caótico. Lembramos que, quando assumiu o governo, Lula disse que queria ser cobrado. Então, estamos aqui para cobrar e dizer que os hospitais federais têm de voltar a funcionar com gestão de qualidade por parte do Ministério da Saúde. O que é preciso? Realizar obras, resolver os problemas de insuficiência de recursos humanos, insumos e medicamentos. A pessoa responsável pela atual proposta de fatiamento é a ministra Nísia Trindade. Não podemos concordar com a forma pela qual ela está conduzindo a saúde. Como pode um hospital como o do Andaraí não ter quimioterápicos? A rede municipal não tem como atender à alta complexidade. Temos que resistir. Só a luta muda a vida”, disse ele, também muito aplaudido.
Dirigente do Sindsprev/RJ, Sebastião José de Souza (Tão) destacou o papel do sindicato nas mobilizações da rede federal. “Neste momento devemos estar juntos e quero dizer que o Sindsprev/RJ nunca se curvou a governos. Afinal, trabalhador é uma coisa, governo é outra. A Ebserh foi criada no segundo governo Lula, mas onde a Ebserh entrou as unidades ficaram precarizadas. O Hospital Universitário Antônio Pedro, por exemplo, está com mais de 200 leitos fechados. É a política do Estado mínimo. Vamos levar esta greve até o final”, frisou.
“Estamos há 75 dias em greve e, até o momento, o Sindsprev/RJ já gastou mais de um milhão de reais com as mobilizações. Precisamos de unidade entre nós, mesmo com todas as diferenças. O Ministério da Saúde quer que o Grupo Hospitalar Conceição assuma a gestão do HFB já na próxima semana, a partir do dia 5 de agosto. Pela proposta, os CTUs permanecerão apenas por mais 6 meses. O Grupo Conceição também quer assumir todas as chefias e o orçamento do nosso hospital. Não está preocupado com a assistência à população. A entrada do Grupo Conceição será como uma ordem de despejo contra todos nós. No Andaraí querem retirar todos os servidores federais de lá. Ou partimos para ampliar a greve de resistência ou ficaremos nos corredores, chorando o leite derramado”, concluiu Sidney Castro, da direção do Sindsprev/RJ.