Assembleia dos trabalhadores do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE) realizada na última segunda-feira (4/11), no auditório 1 da unidade, deliberou pela organização de um plebiscito para consultar a comunidade hospitalar do HFSE sobre a proposta de fusão com o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG). O plebiscito será realizado de 25 a 29 de novembro, com funcionamento da urna nos horários das 8h às 16h e das 19h às 20h30. O local de votação será na porta do HFSE. Serão votantes todos os servidores efetivos, cedidos e CTUs do HFSE. Na cédula do plebiscito constará a pergunta: “você é a favor da fusão e consequente extinção do HFSE?”.
A intenção do governo Lula (PT) e sua ministra Nísia Trindade (Saúde) é extinguir o HFSE por meio da fusão com o Gaffrée e Guinle e, em seguida, criar um novo hospital universitário cuja gestão ficaria a cargo da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Ato unificado no próximo dia 11/11, no DGH
Além da realização do plebiscito, a assembleia desta segunda (4/11) aprovou a realização de ato unificado da rede federal no próximo dia 11/11, a partir das 10h, em frente ao prédio do Departamento de Gestão Hositalar (DGH), na rua México, 128 – Centro. Durante a manifestação acontecerá reunião entre o Secretário de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Adriano Massuda, e representantes do Sindsprev/RJ. Na pauta: o processo de fatiamento da rede e demais reivindicações dos trabalhadores da rede federal.
A assembleia desta segunda (4/11) reafirmou a luta pela inclusão na carreira da Ciência e Tecnologia como uma das prioridades da rede federal neste momento. No final de outubro, a deputada federal Daiana Santos (PCdoB-RJ) confirmou ao SindsprevRJ a inclusão dos trabalhadores e trabalhadoras dos hospitais federais do Rio no texto do Projeto de Lei (PL) nº 302/2022, que dispõe sobre plano de carreiras para a área de Ciência e Tecnologia da Administração Federal Direta, das Autarquias e das Fundações Federais. Tramitando na Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara dos Deputados, o texto do PL deverá posteriormente ser submetido a análise e votação na Comissão de Administração e Serviço Público e na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da mesma casa legislativa.
Avaliação da greve e mobilizações na rede federal
A votação final da assembleia foi precedida de debate com avaliação da greve e das mobilizações da rede federal numa correlação de forças desfavorável em relação ao governo Lula (PT). “O projeto de fatiamento das unidades da rede federal diz respeito ao projeto do PT de nomear indicações de parlamentares para assumirem as direções dos hospitais federais. Nesse processo existem vários absurdos. O Grupo Conceição, por exemplo, está recebendo um aporte de R$ 54 milhões, mas só para fazer o diagnóstico do HFB. Quanto à Ebserh, ela tem uma gestão caótica no Hospital Clementino Fraga Filho e outras unidades da UFRJ. No Hospital Federal do Andaraí, o município do RIo vai receber repasse de 200 milhões. Então é um processo de assassinato da saúde”, afirmou Cristiane Gerardo, dirigente do Sindsprev/RJ.
“O Sindsprev/RJ tem um lado. É o lado de vocês”, afirma dirigente do SindsprevRJ
Quanto ao Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre o Ministério da Saúde, a Universidade Federal do Estado do Rio (UniRio) e a Ebserh, os servidores lembraram que o referido acordo não autoriza nenhuma intervenção da UniRIo ou da Ebserh na gestão do HFSE. Isto porque, formalmente, o ACT visa promover um estudo sobre a possibilidade de fusão das duas unidades. Nesse sentido, a assembleia desta segunda reafirmou a necessidade de que todo o processo do estudo seja absolutamente transparente.
Qualquer coisa além do estudo de viabilidade, no âmbito do ACT, será ilegal. A destruição dos hospitais federais é um projeto de governo e precisamos entender isto. Mas não podemos impedir tal projeto se não estivermos organizados e em processo de mobilização, pois o atual governo não quer mais fazer concurso público e não nos valoriza como trabalhadores efetivos que, durante a pandemia, demos nossas vidas para salvar as da população. Infelizmente, agora somos chamados de vagabundos. Quero dizer a vocês que o Sindsprev/RJ tem um lado, e é o lado de vocês. O fatiamento e a privatização não nos interessam. Queremos concurso público”, frisou Sidney Castro, da direção do Sindsprev/RJ.
“Vamos ter que exigir transparência. O que será dos terceirizados? Até hoje o superintendente do Gaffrée e Guinle [João Marcelo Ramalho] não conseguiu manter aquela unidade de pé, administrada pela Ebserh. O que acontece no Gaffrée e Guinle é a história da Ebserh no Brasil inteiro, onde há muitos casos de assédio. É preocupante saber que o superintendente do Gaffrée está indicado para administrar o HFSE, se a fusão for consumada. Também temos que saber que as imensas verbas movimentadas pela Ebserh não serão investidas aqui”, disse Cléria de Carvalho Pereira, enfermeira lotada no HFSE.
Gestão da Ebserh no Gaffrée e Guinle é caótica
A servidora Roberta Vieira, lotada no Centro Cirúrgico do Hospital Gaffrée e Guinle, deu um importante depoimento sobre o caos reinante naquela unidade de saúde, atualmente sob gestão da Ebserh. “Quero dizer a vocês que serão tempos sombrios, se a Ebserh entrar aqui no Hospital dos Servidores. Lá no Gaffrée nós esperávamos que a reitoria da UniRio fosse transparente e nos informasse sobre os termos do ACT, mas não foi o que aconteceu. Temos um superintendente do HUGG que é debochado e não fala com os servidores. Ele diz que o HUGG é um hospital de excelência, o que não é verdade. Afinal, a Ebserh não conseguiu fazer gestão alguma de excelência. Cinco enfermarias e um setor de ortopedia estão hoje fechados. Cirurgias são suspensas. Para piorar, o serviço de residência médica corre risco de ser descredenciado, pois os residentes não conseguem aprender, e o serviço de tomografia ficou 6 meses sem funcionar. Em meio a tudo isto, o atual governo diz não ter orçamento, mas dá orçamento milionário para a Ebserh”, disse.
Presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal do Rio, o vereador Paulo Pinheiro (PSOL) reforçou as críticas ao fatiamento. “Nísia Trindade diz que o Ministério da Saúde não existe para administrar hospitais. O resultado é que, em vez de o Ministério usar seus gestores, ele contrata gestores de empresas como o Grupo Conceição. Lá no Hospital de Bonsucesso há 1.900 concursados e 800 CTUs. No momento em que o HFB foi entregue ao Grupo Conceição, esses trabalhadores não ficam mais subordinados ao Ministério da Saúde. O que fazer a partir de agora? O que os parlamentares têm a dizer sobre isto? O objetivo é acabar com o serviço público”, destacou.
“O Sindsprev/RJ é o único que está conosco na luta desde o início da nossa greve. Vamos nos fortalecer e lutar pelos nossos direitos. O serviço público federal é a nossa casa e fizemos concurso. Não estamos aqui por outro motivo que não a nossa capacidade já demonstrada no concurso que fizemos. Vivemos cenas de ditadura no Hospital de Bonsucesso, cenas lamentáveis de repressão ordenada por um governo que se diz de esquerda. Nós incomodamos o governo porque botamos o dedo na ferida. Somos Sindsprev-RJ com muito orgulho”, completou Cristina Venetilho, servidora do HFSE.
Lotada no HFSE desde 2005, a enfermeira Carla Andrade reafirmou as palavras de Cristina Venetilho. “Temos orgulho imenso desta casa. Vamos continuar e não podemos nos dispersar. Vamos continuar na luta pela carreira da Ciência e Tecnologia e continuaremos todos juntos com o sindicato. Agora é preciso que nos organizemos nos ambientes de trabalho, para aumentarmos a nossa participação neste movimento. Se não tivermos quantitativo grande, a nossa força vai diminuir, e agora temos que fortalecer. Sei que é cansativo, mas é o único caminho que temos. Vamos pra luta”, concluiu.