O Brasil atingiu, na quinta-feira (7/1), a triste marca de 200 mil mortos pela covid no país. Essas 200 mil mortes são, em parte, o resultado da mais absoluta irresponsabilidade, incompetência e desprezo pela vida humana demonstrados diariamente pelo governo Bolsonaro e seus ministros, começando por Eduardo Pazuello (Saúde). Um governo negacionista, um governo que, desde o início da pandemia, buscou minimizar a gravidade do novo coronavírus, como se a doença fosse uma simples gripe. Um governo cujo presidente, em plena curva ascendente da covid, continua aparecendo em público sem máscara e promovendo aglomerações, além de debochar das medidas de distanciamento social e das próprias famílias vitimadas pela doença.
Absolutamente incompetente e desinformado sobre o SUS, Eduardo Pazuello é sem dúvida um dos piores ministros da saúde da história do Brasil, em todos os tempos. Sua desastrada gestão em nenhum momento buscou fazer como centenas de outros países, que se anteciparam no planejamento da vacinação de suas respectivas populações. O resultado, como todos sabem, é que o Brasil será um dos últimos países a iniciar a vacinação contra a covid. Vacinação que, quando e se ocorrer, será realizada apesar de Bolsonaro e Pazuello.
“Respeito pela vida humana é saber que o semelhante tem direito à vida, mas infelizmente não é assim que o governo Bolsonaro vê as coisas. O ministro da saúde [Pazuello] deu uma entrevista coletiva para tentar passar a falsa de que a situação está sob controle, mas a situação não está sob controle. Tudo está um caos e a conta dos 200 mil mortos pela covid tem que ser colocada no atual governo. Bolsonaro sempre debochou da vida humana e, em vez de lutar contra a covid, continuou fazendo apologia do uso e porte de armas. É absurdo”, protestou Sebastião José de Souza (Tão), da direção do Sindsprev/RJ.
Ao ultrapassar a marca de 200 mil mortos pela covid, o Brasil tornou-se o segundo país do mundo em número de óbitos. País onde impera a subnotificação de casos, onde nunca houve testagem em massa. País que se tornou o pária da doença no mundo. Vergonha nos cinco continentes. “Nos tornamos párias internacionais de saúde pública. Duzentos mil óbitos são fruto de uma crueldade inominável. A história poderia ser diferente. O Brasil era referência em saúde pública, mas tudo isso foi jogado fora. Uma política negacionista, ausência de coordenação nacional e medidas contraditórias, além da falta de empatia, nos colocaram onde estamos. O SUS salvou muita gente, mas não existe milagre”, afirmou, em declaração ao jornal O Globo, o professor titular de epidemiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Medronho.
Projeções de especialistas em saúde indicam que as mortes por covid no Brasil podem chegar a 300 mil, em abril deste ano, se nada for feito. O alerta é do pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, Domingos Alves, do portal Covid-19 Brasil. “Antes que a vacinação comece, teremos problemas para enterrar os mortos e colapso da rede de saúde porque não adotamos medidas de distanciamento e testagem”, adverte ele.
Também em declaração ao jornal O Globo, Domingos Alves pontua que dez estados (RJ, SP, MG, ES, PR, SC, RS, MS, PE, BA) estão com a média móvel de casos maior do que na primeira onda da covid. Nesses lugares, as projeções indicam colapso do sistema de saúde até o fim da próxima semana.
Roberto Medronho considera que a divisão de grupos estabelecida pelo Ministério da Saúde no Plano de Imunização deixa de fora o que, a seu ver, é o maior grupo de risco: os pobres, em especial os negros. “Ser pobre é um dos principais fatores de risco para morrer de covid-19 no Brasil. E no Brasil, ser pobre é quase sempre ser negro. O coronavírus desnudou e aprofundou nossa imensa desigualdade” destaca.
Segunda maior capital brasileira, a cidade do Rio de Janeiro assiste a uma escalada cada vez maior de mortes pela covid: em média, são 49 óbitos por dia, dois a cada hora. Desde setembro, a cidade está no topo do ranking de mortes em municípios do país analisadas por períodos de 14 dias, passando à frente de São Paulo, que fica em segundo lugar, e Brasília, em terceiro.