Irresponsabilidade e desprezo pela vida e a saúde da população brasileira. É o mínimo que se pode dizer sobre o fato de o Ministério da Saúde ter estocados 6,8 milhões de testes RT-PCR — considerados o “padrão ouro” para diagnosticar a covid-19 — com prazo de validade que expira entre dezembro deste ano e janeiro de 2021. A denúncia foi revelada no último domingo (22/11) pelo Estado de S. Paulo.
A irresponsabilidade do Ministério da Saúde é ainda mais grave porque, faltando menos de dois meses para o fim de 2020, será praticamente impossível cumprir a meta de aplicar 42,6 milhões de testes PCR até o dia 31 de dezembro. Inclusive porque, desde o início da pandemia de covid, foram processados apenas 5 milhões de testes. Mantido o atual ritmo de testagem a passo de tartaruga, somente em agosto de 2022 o Ministério atingirá a meta de realizar 42,6 milhões de testes RT-PCR.
Na tentativa de escapar de sua responsabilidade, o Ministério da Saúde publicou uma nota na qual destaca que “distribui os testes de acordo com as demandas dos estados” e que “se mantém à disposição dos entes para dar suporte às ações de monitoramento, diagnóstico, tratamento e acompanhamentos dos casos, além de incentivar as ações de prevenção e assistência precoce nos serviços de saúde do SUS”.
Estados e municípios, por sua vez, reclamam desde o início da pandemia de falta de outros materiais necessários para fazer os testes, como reagentes de extração de RNA (material genético do vírus), swabs (cotonetes grandes usados para colher a amostra), tubos e máquinas de automação dos processos.
Em função da denúncia, o Ministério Público entrou, junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), com uma representação pedindo a investigação e a adoção de medidas por suposto prejuízo de R$ 290 milhões, em decorrência da validade de testes para covid-19 adquiridos pelo governo Bolsonaro.
Além de Bolsonaro, o ministro da saúde, Eduardo Pazuello, deve explicações pelo fato de haver milhões de testes de covid estocados e com validade próxima de expirar em curtíssimo prazo.