Ocorrida no último domingo (28/2), a demissão dos 1.419 profissionais contratados que ainda atuavam nas unidades do Ministério da Saúde aprofundou ainda mais o caos já existente em toda a rede federal do Rio, onde desde o início do ano setores inteiros foram fechados ou tiveram seu funcionamento comprometido devido à falta de pessoal.
No Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), uma das maiores e mais importantes unidades da rede, servidores denunciam que, com a saída dos profissionais, os setores de transplantes renal e oftalmológico poderão ser fechados, se não houver a contratação urgente de profissionais. “Os cinco transplantadores renais e um transplantador de córnea eram do grupo de profissionais de saúde contratados que agora foram demitidos.
Sem esses profissionais será impossível continuar os transplantes, o que terá grande impacto negativo para a população”, explica o médico Júlio Noronha, chefe do corpo clínico do Hospital de Bonsucesso.
Segundo ele, o HFB é responsável por 80% dos transplantes no Rio de Janeiro e, antes da pandemia, a fila de transplantes renais do hospital era de aproximadamente 300 pacientes. Já os transplantes de córnea, que tinham uma fila de 120 pacientes antes da pandemia, têm hoje 40 pessoas na espera. “Mais uma vez, seja ou não por pura incompetência, o Ministério da Saúde está acabando com as unidades federais, o que é inaceitável”, completou.
Certame irregular excluiu maioria dos profissionais em atividade na rede federal
“O certame realizado ano passado pelo Ministério da Saúde estava cheio de irregularidades, começando pelo fato de ter excluído 70% dos profissionais que há muitos anos exerciam suas funções na rede federal. Logo na virada do ano, no dia 31 de dezembro, o Ministério da Saúde instalou o caos na rede federal do Rio ao demitir 2.173 mil contratados, o que provocou a interdição de centenas de leitos. Agora tudo vai piorar ainda mais com a demissão dos 1.419 profissionais que restaram. Além dos transplantes renais e de córnea, outras clínicas de grande importância poderão fechar as portas definitivamente, em todas as unidades federais. O pior é que a direção do HFB está falando em abrir 80 novos leitos.
Como assim? É impossível abrir novos leitos se não há profissionais. O que o governo está fazendo é a destruição do SUS. Uma destruição que precisamos impedir”, frisou Sidney Castro, da direção do Sindsprev/RJ.
Servidores do Hospital Federal Cardoso Fontes (HCF), em Jacarepaguá, denunciam que, com as demissões de profissionais ocorridas desde o início deste ano, uma ala inteira de CTI da unidade precisou ser desativada. Para os servidores, o desmonte do Cardoso Fontes e de outras unidades federais é ainda mais grave por estar ocorrendo em plena segunda onda da covid no país, justamente quando milhões de pacientes estão recorrendo à rede pública de saúde em busca de atendimento.
TCU exige que Ministério abra novos leitos e resolva problema da falta de profissionais
Na última sexta-feira (26/2), o Tribunal de Contas da União (TCU) publicou no Diário Oficial uma resolução cobrando medidas do governo federal em face da crise nas unidades de saúde. No documento, o TCU determinou que o Ministério da Saúde deve, em até cinco dias úteis: apresentar medidas adotadas para disponibilizar leitos para tratamento da covid-19; demonstrar as ações adotadas para operacionalizar os leitos inativos; e apresentar ações planejadas para lidar com eventual déficit de recursos humanos em razão do fim do contrato de 1.419 profissionais.