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quarta-feira, fevereiro 26, 2025
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Alta da Selic serve apenas para aumentar o ganho dos detentores da dívida pública

Em janeiro a inflação perdeu força e ficou em 0,16% de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este é o menor resultado para um mês de janeiro desde 1994, ou seja, desde antes do Plano Real, iniciado em julho daquele ano. Mesmo assim, o Conselho de Política Monetária do Banco Central, subiu a taxa básica de juros, a Selic, de 12,25% para 13,25%, com sinalização de mais uma alta de 1 ponto porcentual, a 14,25%, na sua próxima reunião, de março.

Em dezembro de 2024, o IPCA (um dos índices oficiais que mede a inflação) ficou em 0,52%. A desaceleração não significa que os preços ficaram mais baixos, e sim que, na média, subiram em menor velocidade. No acumulado de 12 meses, o IPCA soma 4,56%.

Mas, a previsão do mercado financeiro (os bancos), para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – considerado a inflação oficial do país – vai na direção contrária, passando de 5,6% para 5,65% este ano. É a 19ª elevação seguida na projeção feita pelos bancos, detentores da dívida pública, que é corrigida pela Selic. A Secretaria de Imprensa do Sindsprev/RJ foi ouvir o economista Adhemar Mineiro sobre estes dados contraditórios sobre a inflação.

Adhemar é economista, doutorando do PPGCTIA/UFRRJ, assessor da REBRIP (Rede Brasileira pela Integração dos Povos), pesquisador do INEEP (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis) e membro da Coordenação da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED).

A inflação no Brasil continuaria subindo. O que explica este fato, se a demanda está reprimida pelos juros altíssimos?

Adhemar Mineiro – A inflação não continua subindo. Na verdade, tivemos, agora, a inflação de janeiro, a mais baixa desde o início do Plano Real. Os números oficiais mostram que a taxa de inflação registrada, está muito próxima do limite da meta. Os juros muito altos, funcionam como um remédio desnecessário, porque não há uma inflação de demanda (aumento do consumo de bens e serviços) sobre a qual agiriam os juros. A realidade no Brasil é que os preços ficaram muito altos, o que ocorreu em todo o mundo, desde a pandemia. Agora, a inflação, que mede a velocidade do crescimento dos preços, está estabilizada. É preciso diferenciar as duas coisas. Mas, efetivamente, o que conta para o cidadão comum é em que patamar estão os preços, e eles estão altos. Se a inflação estivesse subindo muito, esta situação seria pior. Alguns preços como o das proteínas, como carne, ovo, queijo e leite, e alguns produtos que tiveram problemas a nível internacional, como o café e o azeite, subiram, impactando a população.

Existe a possibilidade de gerar artificialmente a inflação?

Adhemar – Sim, existe esta possibilidade. Em vários setores concentrados, com poucos produtores, eles passam a deter o poder de reajustar preços e, por conta disto, podem, não só aumentar as suas margens de ganhos, mas fazer subir a inflação. Esta é uma disputa tradicional de renda que ocorre quando há esta concentração da produção.

Recentemente foram postados na internet vídeos onde aparecem vários tipos de produtos agrícolas sendo jogados fora, uma prática para evitar a queda dos preços, ou mesmo aumentá-los. O jornal O Estado de São Paulo checou as imagens, constatou que eram verdadeiras e tinham a finalidade de reduzir a oferta. Este pode ser um sintoma de que a inflação pode estar sendo criada artificialmente?

Adhemar – Acho que isto pode acontecer setorialmente, mas não sei se estão ocorrendo massivamente esses casos de jogarem fora produtos agrícolas. Até porque, as comodities que são produzidas pelos grandes agricultores, podem ser direcionadas ao mercado internacional. Então, não seria preciso jogar produtos fora a fim de provocar escassez. Basta que jogue para o mercado internacional, como nos casos da soja, carnes e café. Se quisessem reduzir a oferta, bastaria não vender aqui dentro e jogar para o mercado externo, provocando escassez. No caso dos produtos agrícolas, o que se pode ter são protestos em função dos preços que não remuneram suficientemente o médio e pequeno produtor. Resta saber quais os produtos. Não temos uma inflação sendo criada artificialmente, o que temos são preços em patamares muito altos. E como a renda da população não cresceu, estes produtos ficam quase inacessíveis.

O Banco Central está correto em aumentar a taxa básica de juros, a Selic, para baixar a inflação?

Adhemar – Na minha opinião, não, porque não existe inflação de demanda. O BC, quando faz este movimento, na verdade, está aumentando o pagamento dos detentores de títulos da dívida pública. Ou seja, está transferindo renda aos grandes aplicadores financeiros, mais do que contendo a inflação. Com este movimento, o Banco Central desestimula empresários a fazer investimento na ampliação da sua capacidade de produção: ou porque fazem o cálculo de que é mais fácil ganhar dinheiro aplicando em títulos públicos, ou porque simplesmente ficam desestimulados porque o custo do investimento fica muito alto. O BC já deveria estar há algum tempo num movimento de baixar a taxa de juros para incentivar o aumento da produção, e, por tabela, da renda e do emprego. O impacto sobre a inflação é muito maior com a baixa do dólar que aconteceu recentemente. A alta do dólar, em dezembro, provavelmente, jogou os preços para cima, porque os preços das comodities agrícolas estão dolarizados e existe uma integração muito grande das cadeias de produção dos produtos manufaturados; então, quando aumentam os preços dos produtos que são importados, por conta do aumento do dólar, os preços aqui dentro também sobem. E, agora, a partir de janeiro, o BC jogou mais pesado, no sentido de baixar o câmbio, a relação entre o dólar e o real. E isto sim, tem um efeito possível de baixar a taxa de inflação.

Que consequências tem para a economia a crescente escalada da Selic?

Adhemar – Como já disse antes, a escalda da Selic desestimula o aumento da produção, do emprego e da renda. Tem a consequência de desacelerar a economia. E não de baixar os preços.

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