A falta de acessibilidade ainda é um sério problema no Brasil, principalmente para pessoas com deficiência. Há alguns avanços. Mesmo com leis e políticas públicas que visam garantir a acessibilidade, como em escolas, transporte público e ambientes digitais, a realidade ainda apresenta desafios significativos, afetando milhões de brasileiros. O não acesso ou a dificuldade impedem que pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida participem plenamente da vida social e econômica, limitando sua independência, acesso a serviços e oportunidades. A situação impacta diversos aspectos das pessoas com deficiência, como educação, trabalho, lazer e inclusão social.
A acessibilidade física, por exemplo, ainda é precária em grande número de escolas, estabelecimentos comerciais e espaços públicos que ainda não possuem rampas, corrimãos, banheiros adaptados, elevadores e outros recursos que garantem a acessibilidade física para pessoas com deficiência. Segundo especialistas, encarar este tipo de problema no dia a dia pode afetar a saúde mental dessas pessoas.
Uma pesquisa, realizada em 2022 pela BigDataCorp em parceria com o Movimento Web para Todos, mostra que, dos 14 milhões de sites que foram analisados no Brasil, menos de 1% passaram no teste de acessibilidade para pessoas com deficiência. Entre os aplicativos, a estatística se mantém: menos de 1% dos apps mais populares são acessíveis. Muitas pessoas com deficiência visual e auditiva não acessam vários sites e aplicativos que não são projetados para serem acessíveis a este grupo de pessoas.
No mercado de trabalho, muitas empresas ainda não valorizam a contratação de pessoas com deficiência e não oferecem condições adequadas para que elas possam exercer suas funções. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, apenas 29,2% das pessoas com deficiência estão empregadas. A taxa de informalidade registrada foi de 55%.
O setor de educação também chama a atenção. Mesmo com leis que garantem a inclusão de crianças e jovens com deficiência nas escolas, muitas instituições não atendem às necessidades específicas desses alunos, como adaptações na infraestrutura, materiais didáticos e formação de professores. Onde a inclusão deveria ser exercida amplamente, a exclusão ainda é uma realidade significativa.
O transporte público não fica atrás. Nem mesmo grandes cidades possuem veículos e estações adaptados, o que dificulta o acesso de pessoas com deficiência.
A falta de acessibilidade impede que pessoas com deficiência tenham acesso a serviços e oportunidades que são garantidas a todos os cidadãos, o que gera exclusão social, desigualdade e dificuldades na realização de atividades básicas.
A audiologista Suely Guedes destacou que, no campo da audição em prejuízo, existem diversos problemas de acessibilidade. Ela lembra que muitos de seus pacientes reclamam da falta de legendas em filmes nacionais.
“Isso impede que pessoas com perdas auditivas de grau severo e/ou profundo possam desfrutar da emoção de assistirem aos seus atores preferidos, desempenhando excelentes histórias que contribuem muito para enriquecer a cultura dos portadores desse tipo de surdez. Haja vista como o nosso cinema nacional tem sido reconhecido mundialmente e os deficientes auditivos não acompanham em tempo real o que está acontecendo, a não ser através do noticiário impresso, perdendo a emoção de quando assistem à atuação”, comentou.
A audiologista acrescentou que a acessibilidade coloca o deficiente auditivo em ponto de igualdade com o ouvinte.
“Isso aumenta a sua autoestima, a participação em diversas áreas da comunicação e no campo de trabalho, seja em diferentes ofertas do mercado. Não ouvir adequadamente não impede a evolução das potencialidades do indivíduo, se oferecerem as condições adequadas de adaptação para o seu desenvolvimento, seja cultural ou profissional”, avaliou.
Suely Guedes também defende a importância da participação de pessoas deficientes na criação de leis ou políticas públicas.
“É necessário que leis e políticas públicas deem chances de atender esta população de não ouvintes, aos não ouvintes, porém, oralizados – pessoas que, embora surdas, aprenderam a falar e a usar a língua oral como principal forma de comunicação. E que entendam, de uma vez por todas, que o ser humano, apesar de algumas limitações, é capaz de desenvolver papéis importantes dentro da sociedade, desde que a sociedade esteja apta a atender às suas reivindicações e respeitá-las, como cidadãos que têm seus deveres, mas também seus direitos”, analisou.
O Jornal do Sindsprev/RJ Online entrevistou o presidente da Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj), Marco Antônio Santos, portador de deficiência auditiva e ativista da causa de pessoas portadoras de deficiência (PCDs), sobre acessibilidade para pessoas com deficiência no Brasil.

Sindsprev-RJ – Qual a importância da acessibilidade para os portadores de deficiência?
Marco Antônio Santos – a acessibilidade é essencial para que eu e tantas outras pessoas com deficiência possamos viver com dignidade. No meu caso, desde que perdi a audição aos 17 anos por causa de uma meningite meningocócica, percebi como o mundo ainda é cheio de barreiras invisíveis. A acessibilidade não é apenas física — é também comunicacional, atitudinal e social. Ela garante o nosso direito de estudar, trabalhar, praticar esportes e participar da vida em comunidade. A boa notícia é que, como cidadão carioca, é visível que nosso Estado promove uma transformação social visando que todos estejam em todos os lugares.
Sindsprev-RJ – Quais os desafios e dificuldades para melhorar a acessibilidade?
Marco Antônio Santos – melhorar a acessibilidade exige mais do que investimentos — exige escuta e sensibilidade. Um dos grandes desafios é justamente ouvir quem vive com deficiência. Como surdo, eu vejo muitas iniciativas que falham porque não consideram a realidade de quem precisa delas. Também enfrentamos muito preconceito e desconhecimento. Ainda há quem pense que a pessoa com deficiência não pode ser produtiva, independente ou ativa na sociedade. Isso precisa mudar.
Sindsprev-RJ – Na sua opinião, qual a importância de leis e políticas públicas a favor dos portadores de deficiência?
Marco Antônio Santos – as políticas públicas são essenciais para garantir direitos. Como presidente da Suderj, vejo diariamente como a existência de leis voltadas à inclusão faz diferença para que projetos saiam do papel e se tornem realidade. O poder público tem a responsabilidade de garantir que essas normas sejam aplicadas e cheguem à população. Sem esse suporte legal e institucional, muitas pessoas com deficiência continuam invisíveis.
Sindsprev-RJ – Qual a importância da participação de portadores de deficiência na elaboração de leis e políticas públicas?
Marco Antônio Santos – sempre digo que nenhuma política pública será eficiente se não for construída com a participação das pessoas com deficiência. Quem vive a realidade sabe onde estão as falhas, o que realmente funciona e o que é prioridade. Eu falo com propriedade porque já estive em situações em que fui excluído por falta de acessibilidade básica. Então, nossa presença nas decisões é fundamental para garantir que as soluções sejam reais, e não apenas teóricas.
Sindsprev-RJ – Como melhorar a inclusão dos portadores de deficiência no mercado de trabalho?
Marco Antônio Santos – o primeiro passo é derrubar o preconceito. Muita gente ainda associa deficiência à incapacidade, o que não é verdade. Já enfrentei isso na pele. A inclusão no mercado de trabalho depende de três coisas: oportunidade, acessibilidade e formação. As empresas precisam entender que inclusão é um ganho, não um peso. E o ambiente de trabalho precisa estar preparado para acolher, respeitar e aproveitar o potencial de todos.
Sindsprev-RJ – Como presidente da Suderj, você tem algum projeto ou trabalho ligado aos portadores de deficiência?
Marco Antônio Santos – sim, e é uma prioridade minha. Como alguém com deficiência, eu sei a importância de se sentir representado e incluído. Na Suderj, temos trabalhado para garantir acessibilidade em nossas instalações esportivas, promover o esporte adaptado e capacitar profissionais para atender atletas e praticantes com deficiência. Fazemos parte de um governo que pensa e promove inclusão. Conseguimos desenvolver projetos inclusivos que mostram que o esporte também é lugar de transformação social e de pertencimento para todos.