“Nada muda. A política de desmonte continua. Foi apenas mais uma cortina de fumaça”. Assim o diretor do Sindsprev/RJ, Paulo Américo, sintetizou a demissão de Renato Vieira da Presidência do INSS e sua substituição pelo atual secretário de Previdência, Leonardo Rolim.
O motivo alegado foi a falta de solução para o enorme atraso na concessão de aposentadorias, pensões, licenças de saúde e o caos no atendimento, causados, na verdade, não pela ineficiência de um gestor, mas pelo déficit de pessoal de cerca de 20 mil servidores; pela proibição de realização de concurso; e pelo profundo corte de verbas do Instituto. Ou seja, por uma política de governo que não muda com a substituição.
“Nada muda, porque o governo mantém uma política de desmonte. Insiste no discurso de que tem que mudar a forma de trabalho com o teletrabalho ou semipresencial, para aumentar a produtividade. E usa esse argumento para não fazer reposição de mão de obra. Só que a realidade é que, embora as novas tecnologias possam até diminuir o número de novos servidores, não há como atender à demanda sem concurso”, frisa o dirigente. Paulo Américo lembrou que o INSS perdeu 20 mil postos de trabalho e o governo teria que repor pelo menos 50% disso ou não vai resolver o problema do represamento de processos e queda na qualidade do atendimento.
Tapando o sol com a peneira
“Não é a mudança de nome que vai resolver os problemas graves no INSS. O que aconteceu foi que nem no futebol: demitiram o técnico porque o time não tem condições adequadas para jogar. O governo não está fazendo a mudança pra alterar a perspectiva do INSS. Vão investir na força-tarefa, para tentar tapar o sol com a peneira, ganhar tempo, tentar reduzir essa fila, depois vão continuar com a política de terceirizar cada vez mais o Instituto”, previu. Para o dirigente, a demissão foi mais um elemento na cortina de fumaça do governo para esconder os reais motivos do caos no INSS, provocado pelo próprio governo.
“A cortina de fumaça 1 foi o anúncio da força- tarefa, usando militares, o que sabemos que não vai dar certo porque vai levar um tempo enorme para treinar essas pessoas. Principalmente porque o processo de concessão é uma especialização em que o servidor tem que ter a formação adequada para fazer a análise e a concessão dos benefícios. A cortina de fumaça 2 foi a demissão do presidente do INSS para dar uma satisfação à população, mas mantém o mesmo projeto de desmonte, ou seja, o problema tende a se agravar”, advertiu.
Rolim: formulador da reforma e contra concurso
O ‘novo’ presidente do INSS está hoje na secretaria da Previdência. É homem de confiança do ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes. Foi um dos formuladores da reforma da Previdência aprovada ano passado pelo Congresso Nacional, tendo feito parte do grupo coordenado para este fim pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
Mesmo antes de assumir a presidência do INSS, Rolim se disse contrário à realização de concurso para resolver os graves problemas do Instituto. Afirmou que o órgão precisa de menos servidores. Avaliou, em matéria no jornal O Globo, que a quantidade de servidores efetivos no INSS é superior ao necessário e que é preciso mudar o perfil desses profissionais, já que há um processo de digitalização, o chamado INSS Digital, para processar novos benefícios.
Como ex-consultor da Câmara dos Deputados em previdência pública e privada, Rolim é um técnico com bons contatos junto a parlamentares. Além disso, é defensor da mesma tese de Bolsonaro, Guedes e demais membros do governo de que os servidores públicos são “privilegiados” e que por isso foram contra a reforma da Previdência, mas se esquiva quando lhe perguntam por que senadores, deputados, juízes e militares, por exemplo, ficaram de fora ou foram beneficiados pela reforma.
Antes mesmo de ser empossado como secretário especial da Previdência, órgão subordinado diretamente ao ministério da Economia, portanto, quando era consultor da Câmara dos Deputados, foi entrevistado pelo jornal Correio Braziliense. Conheça um pouco mais sobre o que pensa o “novo” presidente do INSS. Na matéria ele diz que os servidores públicos eram contra a reforma da Previdência para defender seus “privilégios”. E insiste que o governo envie para o Congresso Nacional a substituição do atual modelo de Previdência pelo modelo de capitalização.