“Quero chamar a atenção da população para dizer que vocês têm direitos previdenciários e que a culpa dessa situação não é dos servidores do INSS, que trabalham diariamente sem luz, sem água, sem ar-condicionado e sobrecarregados, pois o número de trabalhadores é cada vez menor. Por isso afirmamos que o futuro de vocês está aqui, na defesa da previdência pública”. Em tom de desabafo, Thiago Gomes — servidor do INSS e dirigente do Sindsprev/RJ — resumiu o sentimento dominante entre os segurados e trabalhadores da autarquia que participaram do ato unificado desta terça-feira (13/5), em frente à APS Amaral Peixoto (Niterói).
Organizada pela Regional Niterói do Sindsprev/RJ, com apoio da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a manifestação teve um café da manhã servido na rua, para simbolizar as críticas de servidores e segurados ao desmonte que sucessivos governos brasileiros vêm praticando no INSS, uma das maiores autarquias de previdência pública do mundo.
Em função dos recentes escândalos sobre descontos indevidos contra aposentados e pensionistas do INSS, a manifestação também reafirmou o conteúdo de Nota recentemente publicada pelo Sindsprev-RJ, na qual o sindicato defende o combate intransigente a todas as fraudes perpetradas contra o instituto e a responsabilização de gestores por eventuais desvios de conduta que prejudicaram os segurados da autarquia.

Fortalecer a previdência pública é dever de todos nós
“Somos servidores ligados à saúde, à Funasa e à previdência. No Rio de Janeiro, infelizmente o atual governo entregou parte dos hospitais federais a entidades privadas e ao município. Nós temos que refletir sobre isto, pois é a população pobre a que mais depende da saúde e da previdência públicas. O objetivo da atual campanha contra o INSS é acabar com a previdência pública e entregá-la ao setor privado. Fortalecer e defender a previdência pública é dever de todos nós”, afirmou Sebastião José de Souza (Tão), dirigente do Sindsprev/RJ.
Servidor lotado nas juntas de recursos do Ministério da Previdência Social, Mariano Maia reforçou as preocupações com a situação da previdência pública. “Nos dirigimos à população de Niterói para mostrar o quanto é importante a união com os servidores do INSS na defesa da previdência pública. Num país como o Brasil, com a pior distribuição de renda e desigualdade, a população não pode ser privada da previdência pública. A atual crise é resultado da inércia dos governos anteriores e do governo atual, que deveria ter tido uma atitude mais incisiva. O que acontece é que há um déficit de servidores absurdo no INSS. Problema que também afeta as juntas de recursos do Ministério da Previdência”, frisou.
Governo tem que ressarcir aposentados de forma mais fácil
Dirigente do Sindsprev/RJ com expressiva atuação na Regional Norte João Amazonas, Maria Celina de Oliveira criticou a sistemática do atual governo para ressarcimento dos aposentados e pensionistas lesados pelas fraudes no INSS. “O que está acontecendo hoje é muito trágico porque muitos aposentados não têm dinheiro para sobreviver. Aposentados que já recebem proventos muito achatados. Retirar dinheiro dos aposentados, como fizeram, é absurdo e inaceitável. Minha preocupação é que o governo pediu aos aposentados para fazerem a denúncia, mas como eles vão fazer denúncia se têm dificuldade de fazê-la? O governo tem de mostrar uma forma mais fácil de o aposentado fazer a denúncia de descontos indevidos. O governo não está tomando as providências certas. Falta informação e muita gente que foi lesada vai ficar de fora”, pontuou ela.

O microfone da manifestação também foi aberto a falas dos segurados sobre a atual situação criada pelos descontos indevidos no INSS. “Eu defendo a previdência porque sei o quanto é importante exercer o direito de se aposentar. Eu ainda não sou aposentada e sei que preciso da previdência para garantir os meus direitos. Por isto estou aqui”, afirmou a segurada Carla Cristina Feitosa da Mata. No mesmo tom, o segurado Carlos Augusto reivindicou seus direitos junto ao INSS, mas criticou o achatamento no valor de sua aposentadoria. “Depois que me aposentei, os meus proventos foram achatados. Por isso que eu acho muito importante lutamos pela revisão da vida toda, que é nosso direito. A aposentadoria não pode mais continuar com um valor tão baixo”, criticou.
Boletim do INSS com nota do Sindsprev/RJ sobre escândalo das fraudes
Durante toda a manifestação, na equina da Av. Amaral Peixoto com a rua Visconde de Uruguai (Centro de Niterói), o Sindsprev/RJ distribuiu uma edição especial do Boletim dos Servidores do INSS. Além de tabelas salariais com os reajustes aplicados este ano em decorrência dos acordos assinados em 2024 com o governo federal, a edição traz uma reprodução da Nota publicada pelo Sindsprev/RJ imediatamente após o escândalo dos descontos indevidos sobre aposentados e pensionistas. No documento, o Sindsprev/RJ exige uma reestruturação total do INSS, com investimento maciço para capacitá-lo a combater as fraudes de forma eficaz, melhorar a qualidade do atendimento aos seus milhões de segurados e, principalmente, proteger este patrimônio da classe trabalhadora contra a privatização.
“Infelizmente foi descoberta uma grande fraude, prejudicando a população. Um problema que desta vez atingiu os mais desfavorecidos, os aposentados, que já não recebem proventos suficientes para viver. Também infelizmente, o atual governo não dá aos aposentados e idosos as necessárias condições de sobrevivência. Estamos aqui para alertar a população de que necessitamos reconhecer os nossos direitos e batalhar por cada um deles”, completou Aparecida Vaz, servidora do Hospital Federal da Lagoa e dirigente do Sindsprev-RJ.

“Temos que defender o que é público”, afirma dirigente do Sindsprev-RJ
Servidora da saúde federal lotada em Niterói, onde é dirigente do sindicato, Maria Ivone Suppo alertou para a defesa da previdência pública. “Se nós, servidores e usuários, não defendermos a previdência social, o destino dela será acabar, pois a luta é de todos nós. Quero dizer que estamos unidos em defesa da previdência e contra o sucateamento que hoje acontece nas agências do INSS, um sucateamento que também acontece na saúde. A privatização que querem impor na previdência social já começa a acontecer quando sucateiam as agências e não fazem concurso público. É nosso dever defender esta instituição, pois a previdência é de todos nós. Temos que defender o que é público”, disse ela.
“Estamos aqui em defesa da previdência pública. Uma defesa dos aposentados, pensionistas, dos trabalhadores que contribuem, dos que se acidentam. Queremos chamar a atenção para o fato de que nós, servidores, somos tão vítimas quanto os segurados da previdência social prejudicados pelas fraudes. Somos tão vítimas quanto os segurados pelos ataques movidos por setores empresariais contra a previdência pública. Trabalho há 44 anos no INSS e digo que não é de agora a tentativa de destruir a previdência social. No governo Bolsonaro esses ataques foram mais diretos, mas também não podemos deixar de responsabilizar o governo Lula pelo caos e desmantelamento do INSS, pelo sucateamento da autarquia, como também acontece na saúde e na educação públicas. Querem desmoralizar a previdência e sucateá-la ainda mais, visando privatizar. Temos que defender com unhas e garras a previdência social. Os ataques à previdência não se restringem ao INSS, mas também aos regimes próprios de previdência do funcionalismo público”, explicou Carlos Vinicius Lopes, servidor do INSS e dirigente do Sindsprev/RJ.
Devemos continuar na luta, servidores e segurados
Servidora do INSS lotada na APS Amaral Peixoto, Rosângela Pereira Santos fez um apelo à população. “Peço a todos vocês que nos ajudem a fazer o nosso trabalho, um trabalho que realizamos com dignidade. Nesta agência nós atendemos pessoas de vários lugares e sempre atendemos com carinho e respeito. Estamos indignados com o que está acontecendo. Queremos pedir ajuda a vocês. Nossos sistemas são inoperantes e até mesmo cadeiras estão quebradas. Quero pedir que vocês tenham paciência quando vierem a esta agência em busca de atendimento. A situação não é culpa nossa”, destacou.
Servidora do INSS já aposentada da APS Amaral Peixoto, Luiza Cupolino apoiou a manifestação da colega. “Fico triste de ver que a situação do INSS é de um sucateamento ainda maior. É uma situação para a qual eu não vejo melhora a curto prazo. Por isto é que devemos continuar na luta, todos juntos, servidores e segurados do INSS”, disse ela.
Presidente da Associação dos Servidores da Saúde de Niterói, Jorge Gomes da Conceição criticou o modelo privatista de administração vigente no país. “Na verdade, o que acontece no serviço público brasileiro é um projeto que vem da década de 90, é consequência desse projeto, um projeto de privatização. Infelizmente os partidos progressistas que estão no governo embarcam nessa política. Temos a Ebserh no serviço público federal de saúde, as fundações de direito privado e organizações sociais, que são formas de privatização disfarçada. E agora querem fazer o mesmo no INSS. É um projeto de desmonte do Estado”, concluiu.
