Questão que infelizmente não vem sendo enfrentada com seriedade pelos governos brasileiros, a exclusão digital é problema que, segundo a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad contínua), do IBGE, vem se agravando pela falta de conhecimentos necessários para o uso da internet. Divulgados em agosto deste ano, os dados da Pnad-IBGE apontam que dez milhões e trezentos mil brasileiros não usam a internet por não saberem se conectar à rede mundial de computadores. Segundo a pesquisa, mais da metade deste público corresponde a pessoas idosas, com ensino fundamental incompleto. Neste grupo etário, 66% dos que não utilizam internet por não saberem mexer na rede.

Importante destacar que a ausência de conhecimentos necessários para o uso da internet é apenas um fator — mas não o único — de exclusão digital, que também se agrava em decorrência das  precárias condições econômicas da população brasileira e das próprias infraestruturas de internet no país.

Quanto às habilidades digitais básicas dos brasileiros — como copiar ou mover um arquivo ou pasta, enviar e-mails com arquivos anexados, transferir arquivos entre um computador e outros dispositivos —, estudo realizado em 2023 pela Superintendência de Relações com os Consumidores (SRC) da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostrou que apenas 30% da população possui tais capacidades. Segundo o estudo, o percentual de brasileiros com habilidades digitais intermediárias — como usar planilha de cálculo, conectar novos equipamentos com ou sem fio, criar uma apresentação de slides e instalar programas de computador — é ainda menor: somente 18% da população.

A pesquisa da Anatel também buscou quantificar as chamadas habilidades avançadas, como a capacidade de criar programa de computador ou aplicativos de celular usando linguagem de programação. Entre a população brasileira, o percentual de pessoas com tais habilidades é de apenas 4,2%.

A importância de reduzir a exclusão digital e melhorar as habilidades dos brasileiros no uso da internet fica ainda mais patente quando se pensa nas dificuldades enfrentadas por milhões de segurados do INSS no manuseio dos canais remotos de atendimento da autarquia. Se por um lado a digitalização facilitou muitos procedimentos para o requisito de direitos e benefícios previdenciários, por outro ela foi implantada sem levar em conta as dificuldades de acesso à internet e mesmo a ausência — sobretudo entre idosos e idosas — de habilidades básicas para o manuseio de canais remotos como o ‘Meu INSS’. O que na prática transforma a exclusão digital em exclusão de direitos previdenciários.