O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Saúde Nísia Trindade foram os principais focos de críticas da passeata dos profissionais da rede de hospitais federais, que interrompeu, nesta quarta-feira (7/8), o trânsito na Avenida Brasil, na altura de Bonsucesso, sentido Centro. Faixas e cartazes denunciaram Lula e Nísia como traidores da saúde federal por colocarem em prática, junto com o prefeito Eduardo Paes, em ano eleitoral, o plano de fatiar o complexo federal, entregando cada unidade, em separado, para a Prefeitura, para a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), para o grupo hospitalar Nossa Senhora da Conceição e para a Fundação Oswaldo Cruz.
A manifestação saiu às 11h22 da frente do Hospital Federal de Bonsucesso, ameaçado de ser entregue por Nísia ao grupo Conceição, do Rio Grande do Sul, onde tem sua sede. A passeata foi unificada, contando com a participação de servidores das seis unidades ameaçadas pelo fatiamento: Cardoso Fontes, Andaraí, Servidores, Bonsucesso, Lagoa e Ipanema. O plano prevê a entrega dos dois primeiros para a gestão Eduardo Paes.
Pelo projeto – cuja implantação foi temporariamente interrompida pela greve dos servidores da rede, iniciada em 15 de maio – o Hospital Federal dos Servidores seria entregue ao Hospital Universitário (da Uni-Rio) Gafrée e Guinle, passando para o controle da Ebserh, que já é responsável pela gestão do Gafrée. Pelo plano do governo Lula, o Hospital da Lagoa passaria para a Fundação Oswaldo Cruz, tendo o de Ipanema, destino incerto, ainda.
A ministra Nisia tem se referido ao fatiamento, que prefere chamar de ‘gestão compartilhada’, como forma de ‘melhorar o atendimento’, sem, no entanto, explicar porquê. Para a diretora do Sindsprev/RJ, Christiane Gerardo, o desmembramento vai fazer cair ainda mais a qualidade do atendimento, ao distribuir cerca de R$ 1 bilhão de orçamento do complexo hospitalar aos novos gestores.
Plano é um escândalo – “E não é só o escândalo que significaria a transferência deste milhões em recursos federais para as mãos do prefeito Eduardo Paes, ou da Ebserh, ou do grupo Conceição, em pleno ano eleitoral, em que Lula e Paes estão juntos, mas é preciso denunciar que a Prefeitura privatizou toda sua rede de saúde, entregando-a para grupos privados (apelidados de organizações sociais), o que trouxe a piora da qualidade do atendimento à população e a contratação precarizada dos profissionais. E é isso o que vai acontecer com a rede federal caso seja municipalizada. Por isto a nossa resistência a este plano prejudicial a nós servidores e à população”, afirmou.
Fora grupo Conceição no RJ e RS – Sidney Castro, também diretor do Sindsprev/RJ, lembrou que a resistência dos servidores tem impedido a implantação do fatiamento e privatização da rede. “Estamos aqui hoje para dizer fora grupo Conceição do Hospital de Bonsucesso. O que vai tirar os hospitais da crise é o governo liberar para as unidades os recursos orçamentários para a realização de concurso para admissão de pessoal, para a compra de equipamentos e todo o tipo de material. O governo sabe disto, mas continua cortando verba para justificar a entrega de milhões de reais para diferentes gestores, os mesmo que aumentaram o caos das unidades que administram”, denunciou o dirigente.
Maria Celina, outra diretora do Sindsprev/RJ, denunciou que os profissionais dos hospitais do Rio Grande do Sul que passaram para a administração do grupo Nossa Senhora da Conceição, estão para entrar em greve, contra o caos que se instalou nas unidades. “Vão fazer assembleia amanhã para decidir se aprovam a paralisação”, disse.
Privatizar só é bom negócio para os grupos privados – O vereador Paulo Pinheiro (PSOL-RJ), esteve presente à manifestação. Voltou a condenar o fatiamento para posterior privatização da rede e lembrou que o problema não é de gestão, como quer fazer crer a ministra Nisia. “Os gestores públicos federais são extremamente capazes. O problema, e a ministra sabe disto, é a falta de verbas. O SUS tem que ser mantido público e seus hospitais administrados por servidores de carreira. Mas precisa da liberação de recursos para funcionar bem Privatizar só é bom negócio para os grupos privados de olho nos milhões do orçamento”, afirmou.
O parlamentar lembrou que a Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores, presidida por ele, tem lutado contra o projeto que não é do interesse da população. “Enviamos recentemente ofício ao Tribunal de Contas do Município solicitando uma posição do órgão a respeito da municipalização, que já foi feita em 1999 e não deu certo, sendo suspensa, com as unidades voltando para as mãos do governo (Lula) em 2005”, frisou.
Greve impediu concretização do plano – Pinheiro qualificou como absurda a entrega das unidades, ainda mais em ano eleitoral. E disse que o Ministério da Saúde só não concretizou o seu projeto pela pressão da greve dos servidores. “Vocês podem contar com todo o nosso apoio. Não podemos aceitar um projeto que significa a destruição do SUS”, disse.
Queima de pneus para Brasil – A passeata chegou à Avenida Brasil às 11h33, fechando as pistas em direção ao Centro da Cidade. A faixa “Lula Traidor da Saúde Federal!”, seguia à frente do protesto. Logo atrás, vinha um caixão simbolizando o enterro do projeto de Nísia de fatiamento e privatização dos hospitais. E em seguida, uma outra faixa trazia os dizeres “Nisia Trindade, traidora do SUS”.
A manifestação rapidamente interrompeu o trânsito. Os servidores repetiram em coro que “O SUS é nosso, ninguém tira da gente, direito garantido não se compra e não se vende” e “A nossa luta é todo o dia, porque saúde não é mercadoria”, numa referência à necessidade de defender o Sistema Único de Saúde do projeto de fatiamento e privatização.
Às 11h55 foram queimados pneus nas pistas da Avenida Brasil, para chamar a atenção da população para a ameaça que paira sobre as unidades sob o controle do governo. A Polícia Militar e seguranças do BRT chegaram armados de fuzis. Um policial ameaçou jogar uma granada se a pista não fosse desocupada. Teve início uma negociação com diretores do Sindsprev/RJ. Logo após, a passeata entrou numa rua transversal, voltando ao hospital de Bonsucesso de onde saiu.
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