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quinta-feira, novembro 21, 2024
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Rede Federal: servidores denunciam municipalização do Hospital do Andaraí durante conferência na Uerj

“Quando o governo Lula assumiu, em 2023, a rede federal de saúde do Rio, mesmo sucateada e com insuficiência de servidores, reabriu 300 leitos. A rede também realizou 813 mil consultas e 45 mil cirurgias. Apesar disso, fomos traídos pela ministra Nísia [Saúde], quando ela iniciou o fatiamento de um complexo hospitalar de alta complexidade que atende pacientes de todo o país, e não apenas do Rio. A ministra Nísia mentiu quando afirmou não ter a intenção de fatiar a rede federal. Nísia está assassinando o SUS e o controle social. A Portaria que ela editou para municipalizar o Hospital do Andaraí é autoritária. Queremos que esta Conferência aprove moção de repúdio à municipalização. Não merecemos o que a ministra Nísia está fazendo conosco”, afirmou Cristiane Gerardo, dirigente do Sindsprev/RJ, ao final da cerimônia de abertura da 2ª Conferência Estadual de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do Rio de Janeiro, realizada na noite desta sexta-feira (12/7), no Centro de Convenções da Uerj.

A fala da dirigente do Sindsprev/RJ foi resultado da pressão exercida por cerca de 40 servidores da rede federal que, sem serem convidados, chegaram à Uerj às 17h desta sexta-feira (12/7) e exigiram participar da Conferência. Após serem credenciados como observadores, primeiro realizaram um rápido protesto no hall de entrada do pavilhão João Lyra Filho. Em seguida, dirigiram-se ao acesso do Centro de Convenções da Uerj. Munidos de faixas com inscrições como “Não ao Fatiamento” e “Nísia, a inimiga do SUS”, os servidores permaneceram ali durante cerca de 20 minutos, entoando um cântico cuja letra dizia: “fora município, município fora, fora município, que aqui você não explora”.

Trabalhadores protestaram contra a gestão Lula-Nísia, que iniciou fatiamento da rede federal. Foto: Mayara Alves.

Ao final deste segundo protesto, os servidores finalmente ingressaram no auditório do Centro de Convenções, onde repetiram as palavras de ordem e os cânticos contra a municipalização da rede federal e a ministra Nísia. A partir daí, contudo, instaurou-se um clima tenso entre os servidores e a organização da Conferência, que inicialmente negou o pedido do Sindsprev/RJ para que fosse concedida uma fala durante a cerimônia de abertura do evento.

Como as conversações não avançavam, os servidores então postaram-se em frente ao palco, onde novamente abriram suas faixas, levantaram cartazes de greve e entoaram os cânticos de protesto contra a destruição da rede federal praticada pelo governo Lula (PT). Neste momento, a servidora Lenir Coelho, da saúde municipal do Rio e delegada à 2ª Conferência, fez uma fala de solidariedade aos trabalhadores da rede federal. “Tenho 41 anos de serviço público e quero dizer que a privatização dos bens públicos não é permitida pela Constituição. Por que municipalizar a rede federal e entregá-la a uma prefeitura que mantém os hospitais em condição tão precária? Aqui no município do Rio as clínicas da família não têm médicos. Queremos concurso público e PCCS já”, afirmou, sob aplausos gerais.

Após exigirem participar da Conferência, servidores reafirmaram defesa do SUS 100% público e sem privatizações. Foto: Mayara Alves.

Por volta de 17h50, pouco antes de começar a cerimônia oficial de abertura da Conferência, finalmente houve um acordo informal entre os servidores e o Sindprev/RJ, de um lado, e os organizações do evento. Pelo acordo, seria concedida uma fala de 3 minutos para que, após as mesas de abertura da Conferência, Cristiane Gerardo verbalizasse as reivindicações dos trabalhadores da rede federal. O que viabilizou o firme posicionamento expresso pela dirigente do Sindsprev/RJ em seu oportuno discurso.

Durante a cerimônia de abertura — portanto, antes da fala de Cristiane —, o plenário da 2ª Conferência vaiou estrondosamente a Secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Isabela Pinto, que estava presente como representante de Nísia Trindade. Aos gritos de ‘Fora, Nísia’, o plenário entoou o cântico: “Nísia vai cair, vai cair, vai cair”. Neste momento, alguns servidores ensaiaram virar as costas para a representante do Ministério da Saúde, tamanha a rejeição provocada pelo governo Lula (PT) e pela gestão Nísia entre os trabalhadores da rede federal.

Greve na rede federal continua por tempo indeterminado. Foto: Mayara Alves.

“Estamos aqui para dizer e informar a vocês que em todas as unidades faltam materiais básicos, medicamentos e insumos para que nós, servidores da rede federal, realizemos nosso trabalho no atendimento à população. Em todas as unidades da rede federal nós também sofremos as consequências do número reduzido de servidores porque não há concurso público”, afirmou Luis Henrique dos Santos, dirigente do Sindsprev/RJ lotado no Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE).

Durante todo o tempo em que estiveram na Uerj, os trabalhadores da rede federal distribuíam uma carta-manifesto à 2ª Conferência Estadual de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde. Entre outros pontos, o texto denunciou um “acordão” político entre Lula e o prefeito Eduardo Paes (PSD). Acordo cuja “moeda de troca” são as unidades federais de saúde do Rio e seu fatiamento para entrega ao capital privado. Aproveitando a boa receptividade da carta elaborada pela Secretaria de Imprensa do Sindsprev/RJ, os servidores da rede federal explicaram aos delegados da Conferência as péssimas condições a que o governo Lula (PT) tem submetido os seis hospitais federais do Rio.

“Fora Nísia”, gritam servidores durante ocupação do plenário na Conferência de Gestão do Trabalho. Foto: Mayara Alves.

As mobilizações da rede federal contra a municipalização do Hospital do Andaraí continuarão na próxima semana, com a participação na reunião extraordinária do Conselho Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (CMS-RJ) que vai debater o tema. A reunião acontecerá terça-feira (16/7), das 14 às 17h, na Praça Floriano, nº 51 – 8º andar – auditório – Cinelândia. Além do Sindsprev/RJ e demais sindicatos da área da saúde, para a reunião foram convidados parlamentares, representantes do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH) e da Defensoria Pública da União (DPU).

Na última quinta-feira (11/7), servidores da rede federal em greve realizaram manifestação em frente ao prédio da Justiça Federal do Rio (rua México – Centro), onde será julgada a ação popular movida pelo Sindsprev/RJ com pedido de anulação da Portaria nº 4.847, que municipaliza a gestão do Hospital Federal do Andaraí (HFA). Inicialmente prevista para julgamento na 23ª Vara Federal do Rio, a ação foi redistribuída para a 21ª Vara Federal, a cargo da juíza Maria Alice Paim Lyard. Na mesma quinta-feira (11/7), dirigentes do Sindsprev/RJ e servidores também estiveram no Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro (TCM-RJ), na rua Santa Luzia (Centro). Em 2019, o TCM-RJ pronunciou-se contra a tentativa da prefeitura do Rio de novamente assumir a gestão dos 6 hospitais federais administrados pelo Ministério da Saúde. Na época, o posicionamento do tribunal baseou-se em um estudo técnico, o que pode fortalecer a luta contra a municipalização do Hospital Federal do Andaraí.

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