Em assembleia nesta quarta-feira (26/6), que discutiu soluções para o agravamento da crise de desabastecimento do Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, os profissionais da unidade decidiram, com a autorização do diretor, Rodrigo Ribeiro, reinstalar o Conselho de Gestão Participativa. “A reconstituição do conselho foi uma vitória. É um órgão paritário, que faz o acompanhamento, tanto do planejamento, quanto do relatório de gestão da unidade e o cumprimento de metas. É formado por 50% de membros da gestão e 50% de servidores e usuários. Hoje (27/6), já começaremos a organizar a eleição dos membros do Conselho”, afirmou a diretora do Sindsprev/RJ, Christiane Gerardo.
A assembleia aprovou também fazer denúncia ao Conselho Regional de Enfermagem e ao Conselho Regional de Medicina, sobre a situação do Cardoso Fontes – devido à omissão do Ministério da Saúde – para que sejam tomadas as medidas pertinentes, entre elas, a abertura de processo de fiscalização na unidade, podendo chegar à interdição ética; e que o corpo clínico e as chefias façam notificações sobre o impedimento do pleno exercício profissional por conta das dificuldades causadas pela falta de todo o tipo de material hospitalar.
Omissão proposital do MS – O motivo do agravamento do desabastecimento é a recusa do Ministério da Saúde em voltar a investir nos hospitais da rede federal. Falta todo o tipo de material, desde medicamentos os mais variados, insumos para tratamento oncológico, até seringas, luvas de procedimento e fraldas.
Como foi denunciado na audiência pública da última terça-feira na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, há por trás da omissão, o objetivo de fazer com que o caos se instale nos hospitais da rede federal, para justificar a privatização das unidades. Impedir que a entrega a grupos privados se concretize foi um dos principais motivos que levaram os servidores da saúde a entrar em greve em 15 de maio.
A situação vem se deteriorando ainda mais desde que o ministério baixou portaria, em março deste ano, criando o Comitê Gestor dos Hospitais Federais do Rio, órgão que passou a exercer as funções que cabiam ao DGH, inclusive centralizando as compras e acabando com a autonomia dos gestores de todos os hospitais federais. A decisão vem fazendo crescer a crise nas unidades, prejudicando o atendimento à população.
Perda da autonomia – A assembleia convocada para debater saídas para a crise, realizada nesta quarta-feira (26/6), contou com a presença de mais de 200 pessoas. Atendendo ao pedido dos servidores, o diretor da unidade, Rodrigo Ribeiro, prestou esclarecimentos. Entre outras informações, disse que a situação tem piorado como consequência da centralização de decisões (no Comitê Gestor, o que levou à perda da autonomia das direções dos hospitais federais).
Segundo explicou, a verba tem chegando fracionada, impedindo qualquer organização a curto, médio e longo prazos, agravando ainda mais o desabastecimento. Disse, que, por isto mesmo, a unidade fica sem ter como fazer compras emergenciais para resolver a situação precária e casos emergenciais de falta dos mais variados insumos.
Pacientes expostos – Christiane Gerardo, lembrou que a crise vem se aprofundando há seis meses, em função da política do DGH que desmontou todo o sistema de compra de insumos pelos hospitais, não apenas o Cardoso Fontes. “Chegamos a um momento em que não temos sequer fralda para dar o banho e fazer a troca dos pacientes, o que, como denunciamos na audiência pública da Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores, é uma situação alarmante que pode ser configurada como maus-tratos, porque estas pessoas são mantidas evacuadas e urinadas”, denunciou.
Acrescentou que para continuar trabalhando, os profissionais estão sendo obrigados a lavar com álcool luvas de procedimento já usadas para poder cuidar de outros pacientes. Todas estas denúncias foram feitas na assembleia.