Na avaliação de analistas políticos, jornalistas, dirigentes sindicais e de partidos de oposição foi apenas tático o recuo de Jair Bolsonaro, ao negar – através da divulgação, nesta quinta-feira (10/9), de uma “Carta à Nação” – os ataques feitos à democracia, e as ameaças de imposição de um autogolpe. A movimentação antidemocrática do presidente e de sua base de apoio teve como ápice os atos do Dia da Independência, em 7 de setembro. O documento foi redigido pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), responsável pela indicação do principal alvo de Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes, em 2017, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum”, desculpou-se na declaração. Segundo ele, houve “conflitos de entendimento” com decisões de Alexandre de Moraes no inquérito das fake news, que investiga a difusão de conteúdo falso na internet por militantes bolsonaristas. Embora tenha feito ataques ao Supremo, Bolsonaro diz no texto que sempre esteve “disposto a manter diálogo” com os demais poderes da República.
Para Dione Oliveira, doutora em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora da Assibge-Sindicato Nacional Bolsonaro trabalha com a metodologia do golpe permanente: cria o caos e mobiliza grupos para se contrapor ou defender seu ponto de vista por mais descolado que seja dos problemas concretos da conjuntura e fazendo uso de explicações fantasiosas. “Com isso, vai enfraquecendo as instituições que, também como coadjuvantes, meramente acompanham o processo, sem um posicionamento firme contra todos os crimes já cometidos. Bolsonaro não recuou, seguiu a sua metodologia de dar um passo nas suas práticas golpistas, e ‘se colar colou’”, avaliou.
Clara Fonseca, diretora do Sindsprev/RJ, classificou Bolsonaro como um fanfarrão mentiroso que sabe não ter condições de dar o golpe e ainda usa o nome de Deus em vão. “Deveria estar num circo. Só fala besteira e ainda tem gente que segue. Colocaram um louco no poder que está fazendo da vida da população um inferno. E a classe alta está aplaudindo porque Bolsonaro faz o jogo deles, verdadeiros senhores de engenho que estão aí para escravizar o povo”, afirmou.
Lembrou que Bolsonaro com suas atitudes insanas, age com desprezo em relação ao povo, sujeito às dificuldades criadas por seu governo. “Estamos a pão e água, sem poder comprar comida, comprando ovo e farinha, porque nem carne podemos comer. Nem frango, que está a R$ 18 a bandeja, o arroz a quase R$ 50 cinco quilos. Temos que dar um basta e conseguir interromper o mandato do Bolsonaro através do impeachment. Ninguém aguenta mais”, desabafou.
Recuo tático
José Ferreira, presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, avalia como motivo principal do recuo o fato das mobilizações bolsonaristas terem tido participação menor do que o previsto. “A resposta de apoio nas ruas ficou muito aquém do esperado mesmo com os rios de dinheiro utilizados para a mobilização”, argumentou.
Para Cláudia Abreu, da Comissão Nacional de Ética dos Jornalistas, a “Carta à Nação” não significa a desistência do golpe. “Trata-se de um recuo tático. Até mesmo (Adolf) Hitler, como é de conhecimento geral, na revista Times, em que foi capa, em 1938, como Homem do Ano, negou tudo o que tinha escrito no seu livro autobiográfico Mein Kanpf (Minha Luta), inclusive que invadiria a França, o que fez em 1940”, comparou. Lembrou que a despeito do que se fala sobre a burrice de Bolsonaro, ele está sendo extremamente inteligente, recuando no momento certo, para mais à frente avançar, como este personagem da história fez.
Paulo Flores, jornalista da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), especialista em mídia empresarial, lembrou que muita gente afirma que Bolsonaro é um boçal. “E é, no entanto, consegue se comunicar com quem pensa da mesma forma que ele. Além disto, cada uma de suas ações é tomada após análises de quem sabe o que está falando e fazendo”, frisou. “Viu (ou foi instruído) que o que tinha feito para fomentar seus seguidores mais radicais tinha extrapolado o limite e isso poderia prejudicá-lo. Então, quando falam que ele recuou por medo, é verdade. Por medo e precaução, numa tentativa de tentar remediar o erro que cometeu”, avaliou.
Mestre em Políticas Públicas pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, Marcelo Azevedo considera que Bolsonaro não recuou, foi derrotado por não ter o apoio necessário dentro e fora do país para impor o golpe. Lembra que o presidente tinha apoio de setores do agronegócio e de segmentos raivosos da extrema-direita nacional, o que seria insuficiente.
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“Este apoio tinha que ser mais amplo, e não foi, tanto que, na antevéspera, a Fiesp e a Febraban (indústria e bancos) fizeram uma nota se afastando do governo (que não chegou a ser divulgada oficialmente). Agora, não se pode garantir que Bolsonaro irá parar por aí, devido à visão própria que tem do mundo. Temos que ter claro que não será a última iniciativa dele neste sentido: o golpismo está no DNA de Bolsonaro”, afirmou.
Impeachment
Para o dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Ivan Pinheiro, este recuo foi uma decisão das classes dominantes, das Forças Armadas e das instituições interburguesas em geral, como o STF e o Congresso Nacional. “A verdade é que deram um chega pra lá nele. Mas, não se pode ter dúvidas de que Bolsonaro insistirá em dar um golpe. Pode ser, ainda, que façam um acordo para que ele passe a ser uma figura decorativa, se comportar bem, porque, da próxima vez, o impeachment virá”, previu.
Ivan destacou outros motivos do recuo de Bolsonaro. “Recuou de novo porque deu um tiro no pé. Prometeu a uma base radicalizada, fascista, o que não podia garantir, os decepcionou e também porque recebeu do Centrão a notícia de que a repercussão foi muito forte e que o impeachment era inevitável”, argumentou.
A respeito da possibilidade de afastamento, Dione Oliveira ressaltou que um impeachment ‘bagunçaria muito’ a possibilidade de entrega de algumas encomendas ao grande capital – que seguem aliados do governo, aqueles que sempre lucraram com a pobreza do povo – como a reforma administrativa, o marco temporal e outros enormes retrocessos. “Temos que vencer Bolsonaro, mas acima de tudo, o seu projeto, ou melhor, seu ‘desprojeto’ de sociedade”, frisou.
Gualberto Tinoco, dirigente da central sindical Conlutas, tratou a “Carta à Nação” com ironia.
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“Agora Bolsonaro diz respeitar a Constituição e garantir a ordem do regime democrático.
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Pura mentira. Os trabalhadores não têm motivos para confiar em uma mudança de Bolsonaro, na justiça no STF ou na ordem democrática e no Congresso Nacional. É preciso construir uma greve geral que ponha um fim na circulação do vírus, garanta emprego, salário, moradia e coloque para fora Bolsonaro, Mourão, Paulo Guedes e toda a corja de milicianos no governo”, defendeu.