A existência de um comando ilegal que dita a política de saúde do governo Jair Bolsonaro deverá ser tratada no depoimento que a secretária de Gestão de Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, presta nesta terça-feira (25/5) à CPÌ do Genocídio.
Entre as principais teses deste comando, todas colocadas em prática por Bolsonaro, estão a utilização de medicamentos como a cloroquina para o tratamento precoce da covid-19, o boicote às medidas de prevenção contra a doença, como o uso de máscara e o isolamento social, e à contratação de vacinas, além do estímulo e participação de membros do governo, como o próprio presidente, em aglomerações.
Clique aqui para assistir ao depoimento.
A existência deste comando foi denunciada pela primeira vez, oficialmente, pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, à CPI do Genocídio. Mayra, conhecida como ‘capítã cloroquina’, seria uma das principais participantes do comando paralelo e teve um papel central na ação desastrada e irresponsável do governo federal no colapso de Manaus no começo deste ano. Em janeiro, morreram no Amazonas mais de 3.500 pessoas, parte delas por asfixia, por falta de oxigênio.
Esse grupo ilegal seria formado por médicos e empresários que orbitam os círculos do poder, assessores palacianos, políticos da base ideológica e os filhos Zero Dois e Zero Três do presidente, Carlos e Eduardo Bolsonaro.
O gabinete paralelo, formado por pessoas sem cargos no governo, seria integrado ainda pelo empresário Carlos Wizard e a médica Nise Yamaguchi. Wizard é um bilionário publicamente defensor do uso do tratamento precoce com cloroquina. Amigo de Pazuello, Wizard chegou a participar de reuniões privadas com gestores estaduais e foi nomeado como “conselheiro pro bono” do Ministério da Saúde no ano passado. Depois de acusar governadores de inflar os números de mortes por Covid para conseguir mais orçamento, mesma teoria comungada por Bolsonaro até hoje, deixou o cargo.
A organização do comando pró-cloroquina teria partido de dentro do Planalto do ex-assessor especial da Presidência Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Com o início da pandemia, Arthur começou a abastecer o presidente com informações e pesquisas traduzidas sobre o medicamento. O uso da cloroquina era defendido publicamente, mesmo sem comprovação científica, pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, tido como ídolo por Bolsonaro, que passou a fazer o mesmo, assessorado pelo comando ilegal.
A OMS fez recomendação contra o remédio e concluiu que ele não tem efeito significativo e pode causar reação adversa e sequelas e até matar o paciente. O próprio Donald Trump passou a ignorar o medicamento e se concentrar mais nas vacinas. A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec) contraindicou a droga contra a Covid-19. O documento foi elaborado por uma junta de especialistas.