A tarefa do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, nesta terça-feira (18/5) na CPI do Genocídio é tentar explicar o inexplicável para um mundo em pandemia de um vírus mortal: por que motivos o governo Bolsonaro deixou de comprar vacinas durante a sua gestão.
E ainda por que, estando no cargo, criou dificuldades, sobretudo com críticas e afirmações falsas contra a China, o principal parceiro comercial do Brasil e principal fornecedor de matérias primas para a produção dos imunizantes, o que causou atraso de um ano na aquisição de vacinas, e dificuldades na compra de seringas, máscaras e outros equipamentos.
Terá que explicar, também, porque sendo o Brasil um dos membros dos Brics, junto com alguns dos maiores produtores de vacinas do mundo — Rússia (Sputnik V), China (Sinovac e Sinopharm) e Índia (Covaxin) — o país não se utilizou desse importante fórum internacional para garantir vacinas. O depoimento de Araújo é fundamental pois reforça o caráter genocida da política externa do governo Bolsonaro.
‘Comunavírus’
O ex-chanceler será questionado sobre falas polêmicas e crises geradas com outros países, principalmente com a China, que podem ter comprometido a compra de imunizantes e insumos pelo Brasil. Araújo, assim como o presidente Jair Bolsonaro, chamou o novo coronavírus de “vírus chinês” e “comunavírus”.
Outro ponto a explicar é a posição do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), contrária ao licenciamento compulsório das vacinas. Quando Araújo estava à frente do ministério, o Brasil se manifestou contra a suspensão temporária de patentes de vacinas contra a covid-19, medida que permitiria que países em desenvolvimento produzissem vacinas.
Outro assunto que pode ser levantado pelos integrantes da CPI é a adesão tardia ao Covax Facility, consórcio internacional liderado pela OMS para compra de vacinas. A iniciativa foi anunciada em 24 de abril de 2020, mas o Brasil só aderiu em setembro, com a cobertura mínima de vacinas, que garante imunizantes para 10% da população.