Lançado ano passado pela editora ‘Todavia’, o livro ‘República das Milícias – dos Esquadrões da Morte à Era Bolsonaro’, de autoria de Bruno Paes Manso, conta a história das transformações passadas pelo crime organizado no Estado do Rio de Janeiro, onde nos últimos 20 anos o domínio de territórios em comunidades carentes e periferias vem passando gradativamente para as mãos de milícias compostas por policiais e paramilitares.

Jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), Bruno Paes Manso realizou uma meticulosa e fundamentada pesquisa sobre a formação das milícias no Rio de Janeiro e suas articulações com o aparelho policial do estado, o tráfico de drogas e parte da classe política.

Construído a partir da apresentação de fatos e evidências históricas sobre o crescimento das milícias — com destaque para as áreas de Rio das Pedras e de Campo Grande —, Bruno Paes Manso apresenta depoimentos de ex-milicianos que descrevem a trajetória ascendente desses grupos criminosos que, junto com o tráfico de drogas ou em conflito com ele, já oprimem e exploram 96 dos 163 bairros do Rio de Janeiro, subjugando uma população estimada em 3,76 milhões de pessoas, segundo o ‘Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro’, estudo produzido pelo IBGE.

As entrevistas contidas no livro chocam pela franqueza e riqueza de detalhes, em que assassinatos se sucedem e as ligações entre policiais, o tráfico, o jogo do bicho e o poder público se mostram de forma inequívoca.

O autor também aborda as estreitas ligações entre os integrantes da família Bolsonaro e conhecidos milicianos e matadores do Estado do Rio, com destaque para o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães, condecorado pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos).

O texto cita ainda as suspeitas atividades de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, denunciado junto com o senador por corrupção e lavagem de dinheiro.

O envolvimento de milicianos no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) é outro tema abordado na obra, que questiona o fato de o crime ainda não ter sido solucionado e denuncia a negligência da Divisão de Homicídios do Rio nas investigações.

‘República das Milícias’ é livro atual e de leitura obrigatória para todos os que desejam conhecer os meandros do processo de degeneração da segurança pública no Rio.