Indignação. É este o sentimento dominante entre a maioria dos guardas de endemias do Ministério da Saúde (ex-Funasa) diante das mentirosas declarações feitas pela Fundação Nacional de Saúde à TV Record e veiculadas no programa Domingo Espetacular do último dia 21 de março. Com o título ‘Soldados da Malária’, a reportagem entrevistou guardas de endemias sobre a contaminação pelo DDT, mostrando as nefastas consequências do uso desse veneno para a saúde dos trabalhadores. Em resposta aos questionamentos da TV Record, a Funasa, no entanto, publicou uma nota afirmando que a responsabilidade de capacitar e fornecer equipamentos de proteção individual (EPIs) aos guardas de endemias sempre foi de estados e municípios.
“A informação passada pela Funasa não procede porque somente a partir de 1999 foi que estados e municípios passaram a ser corresponsáveis pelo fornecimento de EPIs. Lembro que a Funasa sempre foi omissa em relação às medidas de proteção à saúde dos seus trabalhadores. E a maior prova é que há anos esses trabalhadores não são submetidos a exames periódicos. Esses exames são fundamentais para detectar problemas de contaminação entre eles”, afirmou o servidor Marcos Rogério, que integra o Departamento de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora do Sindsprev/RJ e é dirigente regional do sindicato em Campos.
Comissão Nacional de Vítimas do DDT repudia mentiras da Funasa
Em nota publicada na última sexta-feira (26/3), a Comissão Nacional de Vítimas do DDT repudiou a informação passada pela Funasa à reportagem da TV Record. A Comissão classifica a informação da Funasa como ‘covarde e mentirosa’ por ter afirmado que a responsabilidade pelos intoxicados por DDT seria de estados e municípios. No documento, a Comissão lembra “ser responsabilidade do governo federal, através do Ministério da Saúde/Funasa, a atenção que deve dar aos agentes públicos federais que trabalharam no combate às endemias no período de 1960 a 1990”. Diz ainda que “os guardas da Sucam que faleceram e os que estão sequelados por causa do pesticida DDT são de responsabilidade sim do governo federal, através de suas instituições que comandaram esse processo irresponsável e criminoso”.
A reportagem veiculada pela TV Record mostrou vários guardas de endemias com gravíssimas sequelas provocadas pelo DDT, como câncer, AVC, obesidade e problemas nos sistemas imunológico e cardiorrespiratório, entre outros. Apesar de a reportagem informar que o DDT não é mais utilizado, um depoimento da professora e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Lia Giraldo, alerta para o fato de atualmente estarem sendo utilizados inseticidas mais tóxicos que o próprio DDT. Segundo Lia Giraldo, o problema só mudou de nome.
“Não vamos aceitar que a Funasa diga mentiras e tente se livrar de suas responsabilidades na contaminação dos guardas de endemias. Vidas inteiras foram destruídas pela total irresponsabilidade da Funasa, que nunca tratou a saúde de seus trabalhadores como prioritária. Querer fugir agora de suas responsabilidades, como faz a Funasa, é algo inconcebível”, afirmou Pedro Lima, dirigente do Sindsprev/RJ e da Fenasps.
Sindsprev/RJ participa de projeto da Fiocruz para prevenir adoecimento
Por meio de seu Departamento de Saúde do Trabalhador(a), o Sindsprev/RJ participa, desde 2018, do Projeto Integrador Multicêntrico do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que faz o levantamento do adoecimento e das mortes dos agentes de combate às endemias da Funasa e de municípios do Rio pela contaminação e exposição por larvicidas e inseticidas (ou pelos agrotóxicos empregados no processo de trabalho). Além do Sindsprev/RJ, o projeto tem a participação de Sintrasef-RJ e SintSaúde-RJ.
O projeto do Cesteh/Ensp/Fiocruz é feito em colaboração com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz-PE), Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO), Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS do Ministério da Saúde) e entidades sindicais representantes da categoria, como os sindicatos já citados.
Uma das conclusões da I Oficina de Trabalho do Projeto Integrador Multicêntrico — intitulada ‘Estudo do Impacto à Saúde de Agentes de Combate às Endemias/Guardas de Endemias pela Exposição a Agrotóxicos no Estado do Rio de Janeiro’ — foi a de intensificar a luta pelo banimento definitivo do inseticida Malathion, ainda empregado para eliminação de mosquitos adultos, apesar do seu expressivo impacto ao ser humano e ao ambiente.