Nesta sexta-feira (20 de novembro), acontece o feriado da consciência negra, que marca a homenagem ao grande líder Zumbi dos Palmares. Para conversar sobre o significado da data, a reportagem do Sindsprev/RJ entrevistou o diretor da Secretaria de Gênero, Raça e Etnia do sindicato, Osvaldo Mendes (foto).

Por que até hoje o feriado da consciência negra ainda não foi assumido pelo Estado brasileiro como um feriado nacional? Esta negativa mostra uma postura racista e discriminatória do Estado?

Osvaldo Mendes – Sim. O Estado brasileiro tem uma ideologia racista, machista e preconceituosa.
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A prova é que atualmente, dos 27 estados brasileiros, em apenas 6 deles é feriado da consciência negra, feriado de zumbi. Temos que lutar para que o dia 20 de novembro seja adotado formalmente como feriado nacional da consciência negra, em todo o país. É o mínimo que se poderia fazer em relação a este ponto.

Sindsprev/RJ – Considerando a situação do Brasil atual, onde as polícias continuam matando cotidianamente a população negra e pobre das favelas e periferias, o que fazer para acabar definitivamente com esse extermínio?

Osvaldo Mendes – além de denunciar toda e qualquer violência policial cometida contra a população trabalhadora, negra e pobre das favelas brasileiras, além de denunciar o racismo como uma questão estrutural que precisa ser enfrentada, temos que defender um projeto político do povo negro para o Brasil. Um projeto que não seja excludente ou discriminatório, um projeto que respeite nossa cultura, história e valores, um projeto de justiça social, de combate às desigualdades e opressões.

 Sindsprev/RJ – Apesar de ter sido editada em 2003, a Lei n.º 10.639 — que determina a inclusão da história e da cultura afro-brasileira e africana na grade curricular das escolas — até hoje não foi plenamente cumprida pelas instituições de ensino do país. O que fazer para que esta lei seja cumprida?

Osvaldo Mendes – Os movimentos negros, mas não somente eles, têm que exigir das escolas brasileiras o cumprimento efetivo da lei 10.639. Os parlamentares de partidos do campo progressista têm que fazer o mesmo, com apoio dos movimentos sociais e de todas as pessoas que, na formação social brasileira, reconhecem a importância da aplicação dessa lei. O boicote à aplicação da lei 10.639 é parte da sabotagem de setores reacionários e preconceituosos que querem a todo custo perpetuar o imaginário escravocrata herdado da colonização.
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Não podemos aceitar.

Sindsprev/RJ – O atual presidente da Fundação Palmares, o bolsonarista Sérgio Camargo, já xingou o movimento negro de ‘escória maldita’ e classificou Zumbi de ‘falso herói’. Como você vê esta situação?

Osvaldo Mendes – Para nós, negros e negras do Brasil, é um fato absolutamente lamentável ter, na presidência da Fundação Palmares, um sujeito como Sergio Camargo. Um sujeito que, apesar de ser negro, não se reconhece como negro. Um homem que age como se fosse um “cativo” ao lado do seu “senhor”. É inacreditável que, em pleno século XXI, isto esteja acontecendo. Os insultos e xingamentos proferidos por Sergio Camargo contra a figura de Zumbi e contra as lutas dos negros no Brasil são a expressão da cultura de ódio e discriminação que sempre caracterizou as elites brasileiras. É uma lástima.

Sindsprev/RJ – Diferentemente do movimento por ações afirmativas, o movimento por reparação para os povos negros e indígenas vai além e defende a necessidade de redefinição do Estado brasileiro. O que isto significa?

Osvaldo Mendes – na verdade, nós, do Movimento por Reparação, não lutamos pela redefinição do Estado, mas para reorganizar o Estado brasileiro. Isto significa ter uma nação com a quantidade de povos que realmente compõem a nação, como os povos negros, ciganos, indígenas e outros. Lutamos por um Estado multicultural e multiétnico.
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 Um Estado que reflita a existência de todos esses povos e culturas.