Levantamento produzido pela Fiocruz com base em registros do Ministério da Saúde coletados até 31 de outubro mostra um avanço das infecções por coronavírus em nove capitais brasileiras. Oito dos municípios mais ameaçados são das regiões Norte e Nordeste. O nono município mais ameaçado é Florianópolis, na região Sul.
De acordo com especialistas em saúde, o aumento nas internações pode estar sinalizando a possível chegada de uma segunda onda da pandemia de covid no país. “Não temos certeza sobre a existência de uma segunda onda, mas é uma possibilidade que deve servir de alerta para que as autoridades locais repensem ou revertam políticas de flexibilização”, afirmou Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, da Fiocruz. Segundo ele, como não se sabe quanto tempo dura a imunidade, uma pessoa que já foi infectada poderia ser novamente vítima da pandemia. Portanto, faz sentido que as regiões mais vulneráveis vistas na pesquisa sejam aquelas onde houve mais contaminados nos primeiros meses da pandemia no Brasil.
Um agravante apontado pela pesquisa está nos índices socioeconômicos das capitais com novos casos, onde há um grande percentual da população de baixa renda e com menos condições de aderir ao teletrabalho.
“O Brasil voltou cedo demais à normalidade. Por isso, nossa segunda onda pode ser mais grave do que a vista na Europa. Lá, o número de casos foi bastante reduzido até a pandemia atingir novamente a população. Aqui, nunca chegamos a um índice confortável, estacionamos em um nível alto”, afirma Gomes.
Entre as cidades com a situação mais crítica apontadas pelo boletim do InfoGripe (Fiocruz), Fortaleza tem 72,3% das UTIs e 54,4% das enfermarias ocupadas por pacientes de covid-19. A capital cearense e São Luís (MA) completam cinco semanas consecutivas com sinal de crescimento na tendência de longo prazo de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
A taxa de ocupação de leitos por covid-19 em Florianópolis é de 86,9%, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Em Belém, a taxa de ocupação de leitos clínicos por covid-19 é de 39,6%, e a de UTIs é 37,5%.
Apesar de não ser citada diretamente no levantamento da Fiocruz, a situação do município do Rio de Janeiro também inspira preocupação. Números da própria Secretaria Municipal de Saúde do Rio mostram que a taxa de ocupação nas UTIs passou de 78%, em 23 de outubro, para 92%, na última quinta-feira (12/11). O município dispõe hoje de apenas 251 leitos para pacientes com covid-19 em estado grave. A prefeitura do Rio atribui a lotação ao fechamento de vagas no Hospital Federal de Bonsucesso, que pegou fogo no mês passado, nas unidades de campanha do governo estadual e na rede privada.
Após um período de estabilidade, a rede privada da cidade também observa uma tendência de alta na procura de pacientes com coronavírus, segundo a Associação dos Hospitais do Estado do Rio, que aponta um aumento de 40% na demanda de pacientes por atendimento em emergências, nas últimas três semanas.