Henrique Acker
Para um governo que se vangloria de não participar de esquemas de corrupção, fica difícil explicar a existência de um orçamento paralelo de R$ 3 bilhões para presentear aliados no Congresso Nacional.
Revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o “Bolsolão” foi montado dentro do Ministério do Desenvolvimento Regional, envolvendo a aquisição de tratores e equipamentos agrícolas a preços superfaturados em até 259%. Para quem não lembra, o ministro Rogério Marinho foi o relator da Reforma da Previdência.
Os próprios parlamentares do Centrão enviaram 101 ofícios ao Ministério, via Codevasf, determinando onde e como aplicar os recursos. Não se trata de “emendas” orçamentárias, mas de um esquema de uso direcionado de verbas públicas.
Esse esquema demonstra, dentre outras coisas, como o governo Bolsonaro tornou-se refém da bancada dos seus aliados no Congresso Nacional. Foi por este mesmo caminho que outros governos enveredaram e acabaram mergulhados em escândalos.
Acossado pela CPI da Covid-19 no Senado e pela queda de sua popularidade, Bolsonaro precisa manter uma maioria no Congresso.
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Ocorre que essa maioria tem preço, um preço que pode custar caro, até mesmo sua derrota na eleição de 2022.
O Bolsolão é só mais uma evidência da encruzilhada em que se encontra o governo. Faltando um ano e meio de mandato, Bolsonaro tenta contra atacar, mas esbarra na fragilidade de sua sustentação.
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A sobrevida deste governo só é possível graças às dificuldades de mobilizar protestos de rua, em meio a uma pandemia que ainda contamina e mata muita gente no país.
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Henrique Acker é jornalista, foi, no rádio, âncora do Programa Boca Livre por 18 anos, é editor do Blog do Acker, analista político e da cobertura da mídia.
